Aplicativo que dá independência a pessoas com deficiência visual no cinema é testado

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Aguinaldo Pestana, 52 anos, tem deficiência visual desde 1997, quando levou um tiro durante um assalto em São Paulo. A bala, que atravessou sua cabeça, danificou seu nervo óptico e lhe tirou totalmente a visão. Depois de 17 anos, o contabilista diz ser 95% independente, graças à tecnologia. Com seu smartphone, ele consegue escolher a roupa, acertar o caminho de casa, conversar com os amigos por mensagem de texto, pagar contas, fazer compras…

Nesses 5% de dependência está a tarefa de ir ao cinema. Para entender o que está na tela, além dos diálogos dos personagens, é preciso contar com a boa vontade de quem está ao lado para descrever o contexto das cenas. "É muito difícil que a pessoa ao seu lado tenha paciência de te contar o que está se passando na tela", diz ele ao UOL. Mesmo quando há vontade do acompanhante, corre-se o rico de ouvir muitos "shius" e "psius".

O problema de Aguinaldo e de outras pessoas com deficiência visual, no entanto, está mais próximo de ser resolvido, pois já existem aplicativos que permitem que a audiodescrição do filme seja baixada em smartphones e tablets antes da sessão. O site UOL convidou Aguinaldo para testar o MovieReading, em uma sessão do filme brasileiro "A Despedida", de Marcelo Galvão, presente na programação da Mostra de São Paulo. O recurso ainda está em fase de testes e o filme de Galvão foi o único do evento a aderir à novidade. Disponível para as plataformas Android e iOS, o aplicativo e o áudio podem ser baixados gratuitamente.

Como funciona

Recomenda-se que o download do aplicativo e da audiodescrição do filme seja feito em casa para não depender da conexão da sala do cinema. É aconselhável ainda um teste simples de compatibilidade, que deve ser feito em frente a um computador com auto-falantes. Para a sessão, o usuário precisará de fones de ouvido com microfones. As instruções acompanham o aplicativo.

Desenvolvido na Itália, o programa tem o mesmo princípio do Shazam, que reconhece músicas gravadas e que, em alguns casos, reproduz a letra das canções. No caso do MovieReading, a audiodescrição é sincronizada à obra assim que o microfone do dispositivo reconhece o áudio do filme.

O narrador descreve o que é importante para cena e perceptível apenas aos olhos, como "ela acende um cigarro e se senta perto da janela", ou "ele amarra o cadarço do sapato preto e caminha até a porta". A audiodescrição não é novidade no Brasil, mas sua inclusão em sessões de cinema ainda é pouco prática. Antes do aplicativo, um narrador precisava de um espaço para narrar o filme ao vivo, com transmissão para fones de ouvidos distribuídos antes da sessão.

Avaliação do aplicativo

Aguinaldo permaneceu calado durante toda a sessão, mas reagiu assim que o letreiro subiu pela tela da sala. "Decidi que ia avaliar o aplicativo de acordo com o número de perguntas que precisaria fazer para entender o filme. Não precisei fazer nenhuma", explicou ele.

Na mesma sessão ainda estavam outras três pessoas com deficiência visual. Entre eles, Paulo Romeu Filho, que cuida do Blog da Audiodescrição. "As pessoas que nos acompanham nas sessões – amigos, familiares – também querem prestar atenção no filme. Muitas vezes pergunto o que está acontecendo e recebo como resposta: 'peraí que já te conto'. Sem a audiodescrição, provavelmente sairia irritado do filme".

Fonte: UOL

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