Por Regina Oliveira, coordenadora de revisão em Braille da Fundação Dorina Nowill para Cegos
Foi no ano de 1825 que um sistema de escrita e leitura revolucionou a vida das pessoas cegas e com baixa visão: o braille. Composto por seis pontos que, combinados entre si, permitem a representação do alfabeto, números e simbologias, a técnica desenvolvida por Louis Braille atravessou gerações e foi pioneira ao permitir mais autonomia e independência das pessoas com deficiência visual.
Hoje, dia 4 de janeiro, é comemorado o Dia Mundial do Braille. E, mesmo quase 200 anos após a sua criação, o braille continua sendo o único método de alfabetização para crianças nascidas cegas. É claro que nesse tempo a tecnologia avançou e permitiu a criação de diversos recursos de acessibilidade, ampliando o horizonte das pessoas com deficiência, mas nenhum deles – seja a audiodescrição, ou softwares que permitem a leitura de e-mails, por exemplo -, substitui esse sistema.
No entanto, alguns dados indicam que isso pode estar acontecendo. De acordo com Fredric K. Schroeder, vice-presidente da Federação Nacional dos Cegos dos EUA, cerca de 90% das crianças cegas americanas já estão crescendo sem aprender a ler e escrever. A percepção, segundo o próprio especialista, é que elas estão optando justamente por migrarem para esses recursos em detrimento ao braille. Não pode! Tecnologia e braille precisam andar juntos.
Pesquisas indicam que informações visuais correspondem a 80% do total recebido por uma pessoa. E o áudio corresponde a apenas 20%. Partindo deste princípio, o braile é o único sistema que ajuda a suprir o acesso da pessoa cega à maioria de informações visuais.
Fora isso, a alfabetização em braille – quando feita cedo nas escolas ou instituições de apoio – tem impactos que serão levados ao longo da vida. Além de estimular o desenvolvimento cognitivo, principalmente por nos colocar de forma ativa na leitura, ele é fundamental para inclusão na sociedade para os processos de socialização com outras pessoas.
Para as crianças, o braille é ainda mais importante. Como elas dependem da representação tátil para aprender, é esse sistema que traduz para elas gráficos, equações matemáticas, mapas e figuras geométricas.
É fato que, em 2020, a pandemia do novo coronavírus afetou diversos setores da sociedade, inclusive a educação. Escolas foram fechadas para evitar a propagação do vírus, os processos de alfabetização sofreram adaptações e o distanciamento físico limitou ainda mais a inclusão dessas crianças. 2021, no entanto, chega com um ar de otimismo em todos os aspectos, principalmente por conta da chegada de projetos como Lego Braille Bricks – produto de uma parceria entre a Lego Foundation e a Fundação Dorina Nowill para Cegos, que chega às escolas nesse ano.
Com cerca de 300 peças cobrindo o alfabeto completo, números de 0 a 9 e símbolos matemáticos, o brinquedo educativo conta blocos em letras impressa e relevo, chega às escolas nesse ano para que todas as crianças – com ou sem deficiência – possam aprender e brincar juntas. De acordo com o IBGE, o Brasil tem 6,5 milhões de pessoas com deficiência visual (cegas ou baixa visão). Já o A Conselho Brasileiro de Oftalmologia, estima que o Brasil tenha pelo menos de 25mil crianças cegas. Para elas, que estão em pleno processo de alfabetização, são ações como essa que contribuem para o aprendizado inclusivo.
Como dizia D. Dorina de Gouvea Nowill, “Na escada da vida, os degraus são feitos de livros”. E a gente precisa do braille para lê-los.