"O vento bate no rosto e refresca." Essa é a sensação que a estudante Luana Mendes, 8 anos, tem quando anda de bicicleta. Ela perdeu a visão há dois anos e mesmo assim não abandonou uma das atividades preferidas: pedalar.
A diferença é que a magrela que ela ganhou antes de completar três anos foi substituída por uma adaptada, que hoje é motivo de liberdade e felicidade para a menina que vive com o sorriso estampado no rosto. Mas nem todos os cegos têm a mesma oportunidade que ela, ou não teriam há um mês.
Em maio, cerca de oito pessoas com deficiência visual começaram a ter aulas para aprender a andar de bicicleta. A ação é uma parceria entre a Associação Joinvilense para Integração do Deficiente Visual (Ajidevi) e o Movimento Pedala Joinville.
No entanto, o projeto ainda esbarra na falta de equipamentos adequados para o desenvolvimento do trabalho dos guias voluntários.
"Nós temos apenas uma bicicleta adequada, o que limita o número de participantes. Por isso, nós estamos buscando apoiadores e também aceitamos doações", diz o presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência (Comde), Paulo Sérgio Suldoski.
As aulas ocorrem todas as tardes de terças na sede da Ajidevi, no bairro Floresta. O objetivo é dar a oportunidade para quem tem deficiência visual de viver a emoção de pedalar na cidade das bicicletas, incentivar a prática do exercício físico e a inclusão social.
Suldoski diz que o cego tem uma tendência a ser sedentário pela falta de acessibilidade e da necessidade de contar com o auxílio de um guia para correr ou fazer outras atividades esportivas.
O caso da pequena Luana é uma exceção, pois ela tem uma bicicleta adaptada e o apoio dos pais para pedalar nos finais de semana. A mãe dela, Sandra Tromm, contou que sempre incentivou a filha a continuar pedalando e considera o projeto uma iniciativa muito importante.
"Quando a Luana ficou cega, ela perguntou: mãe, como eu vou andar de bicicleta? Aí a gente foi atrás e conseguiu adaptar uma", lembra Sandra.
Não fosse a bengala que Luana carrega na mão, ninguém perceberia que ela não a visão. Apesar disso, a estudante revela que andar de bicicleta é muito fácil.
Projeto conta com mais guias do que bicicletas adaptadas
O alto custo das magrelas adaptadas é o principal problema para ampliar o projeto iniciado pela Ajidevi e o Movimento Pedala Joinville. O valor de uma bicicleta adequada para cegos varia entre três e quatro mil reais.
"Hoje, nós temos mais guias voluntários do que equipamentos para utilizar nas aulas", revela o guia Genivaldo Limas, 33 anos. Ele também explica que a única magrela disponível para os treinos não é o modelo mais ideal e não poderia ser usado para passeios mais longos, devido a falta de segurança e conforto.
A experiência de andar de bicicleta adequadas é tão emocionante para os cegos quanto para os guias. Limas e Charles Lúcio Schwartz afirmam que é um aprendizado pedalar em dupla. A maior dificuldade é manter o mesmo ritmo e a força durante o passeio. "A gente também avisa quando precisa frear, virar à esquerdar ou diminuir a velocidade, por exemplo", explica Limas.
Para tentar compreender melhor as dificuldades que os cegos enfrentam para se locomover de bicicleta, eles fizeram um teste. De olhos vendados, Limas fez um percurso que já conhecia e garantiu que não é uma tarefa fácil. "Eu fiquei com medo de cair e perdi o equilíbrio. A gente estava na direita e eu pensei que estávamos na esquerda, isso que eu já conhecia o trajeto", conta Limas.
Mesmo assim, ele e Schwartz estão empolgados com o projeto e destacam que todas as pessoas devem estar em harmonia com o trânsito, independente de ser deficiente ou da classe social.
Como doar
O quê: projeto para ensinar cegos a andar de bicicleta
Projeto: Ajidevi e Pedala Joinville
Contato: (47) 3454-8542 ou (47) 3436-3126
Fonte: A Notícia