A escola que não quer mudar

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E, na escola, a discussão continuava: “Como vamos nos adaptar? Não estamos preparados! Nossos professores terão que ser treinados, devem receber formação constante e se manter atualizados, e isso vai custar muito. Vamos ter que construir salas especiais. Como vamos fazer para manter todos os custos que já temos e ainda absorver todos estes novos gastos?”.

Mas era claro que precisavam se preparar. Era um caminho sem volta, uma imposição externa. Como a escola poderia ficar de fora de uma mudança que vinha ocorrendo em várias partes do mundo e que seguia se impondo a cada dia?

Os professores mais conservadores resistiam, algumas escolas permaneciam irredutíveis, mas, aos poucos, todos se ajustaram.  Absorveram os custos, repassaram os gastos extras, criaram estrutura e logo se adaptaram e a TECNOLOGIA chegou à escola, e agora faz parte dos processos educativos. Salas de informática, professores treinados, equipamentos para enriquecer as aulas, treinamento, computadores, automatização das secretarias e a escola particular, bem como a pública, absorveram a informatização para não perderem mercado…

Pois bem, recentemente, fomos surpreendidos pela notícia de que uma entidade que representa as escolas privadas em nosso país recorreu ao Supremo Tribunal Federal contra a lei que obriga a inclusão de alunos com deficiência também nas escolas privadas.

Alegam despreparo. Alegam aumento de custos. Alegam falta de treinamento das equipes. E permanecem lutando contra o sistema que tenta abrir a porta das escolas para as diferenças humanas. Mas… e se fosse a imposição de outra tecnologia? E se fosse para se adaptar a algo que irá trazer um diferencial, mesmo que isso custe mais? Também fechariam suas portas às mudanças? Deixariam de fazer as adaptações necessárias? Certamente que não.

Ainda estamos olhando pela janela quadrada da formatação. O padrão normal ainda se impõe e estamos entristecidos ao ver que tantos conflitos no mundo, tantos atos violentos são cometidos pela não aceitação de que somos diversos.

A escola, muitas vezes, nega o seu papel de formadora de valores ao lado da família, e tenta apenas prover conhecimento. Impossível que seja assim. Impossível que a escola tente se colocar à parte do processo social que faz nascer a ação a cada minuto, que pede reflexão constante e que nos faz sujeitos de um coletivo.

As empresas estão sendo chamadas a abrir as portas para a inclusão. A sociedade está sendo convocada a pensar nas suas diferenças e aceitar, em seus espaços comuns, aquelas pessoas que não obedecem a antigos padrões. Desta forma, vemos o idoso onde antes não víamos, o cadeirante conquistando espaços, a pessoa cega ou surda no mercado de trabalho, pessoas com transtornos de toda ordem chegando para sentar-se à mesa ao lado, no banco ao lado.

E, ainda assim, querem manter as crianças da escola privada longe disso e reforçar nelas a separação das pessoas em nichos. “Este é o lugar do inteligente e capaz. Aquele é o lugar do deficiente. Aquele outro é o lugar do idoso. E aquele ali é o lugar da criança abandonada.” E queremos, agindo assim, que sejam “cidadãos competentes e autônomos”, que cresçam “sem preconceitos”, que construam uma sociedade menos violenta e mais harmônica.

Se vamos mesmo caminhar na direção da separação, da exclusão, que estejamos, todos nós, certos de que estamos seguindo na contramão de uma tendência que é mundial e urgente. E que estejamos conscientes do resultado que isso trará no tempo que vem logo à frente, onde nós estaremos lidando com as nossas próprias dificuldades recorrentes da idade, dependentes, de certa forma, destas pessoas que estamos ajudando a formar.

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