Deficientes Sociais

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Se me permitem, dessa vez não falarei da inclusão de pessoas com deficiência na escola. Hoje, eu gostaria de contar um “causo”, como dizem no interior de São Paulo. Aconteceu comigo durante as férias….
 
Desde sempre meu destino preferido é a praia. O sol, a areia, o mar, a brisa, as crianças brincando na areia e construindo lindos castelos, criando histórias de um futuro repleto de realizações sempre me fascinaram. Gosto de praia no inverno, no verão, com sol ou com chuva. Não me importo se durante o verão a população triplique ou que para subir ou descer a serra eu pegue algum, ou muito, trânsito. Claro que tem o lado B da história, pessoas sem educação que permitem que suas latinhas de cerveja sejam esquecidas na areia ou na água do mar, pessoas passeando com seus lindos cães pela areia, lixos dos mais diversos tipos espalhados por todos os lados e vários outros tipos de falta de limite no convívio social ou de respeito à natureza. Costumo devolver o lixo a seus donos, peço para que seus donos recolham o excremento de seus cães e claro, não permito que nenhum rastro de minha passagem pela praia seja esquecido, a não ser o buraco feito pelo guarda sol ou o castelo construído por algum de meus filhos.
 
Além de estar na praia, outro desejo meu é que as contas tirassem férias também, mas, infelizmente, esse desejo nunca será realizado e, assim como eu, várias outras pessoas também precisam ir ao banco durante suas férias na praia. Ir ao banco na praia geralmente é uma aventura, as filas sempre são imensas e as pessoas desesperadas por estarem presas em agências que nem sempre contam com ar condicionado.
 
Outro drama que antecede a entrada ao banco é estacionar o carro, nunca há vagas, por isso sempre adoto uma estratégia com meu marido, vamos os dois, enquanto um entra no banco o outro tenta parar o carro em uma vaga. E foi exatamente por causa do estacionar o carro que o dito “causo” aconteceu.
 
Eu entrei na agência bancária, fiz o que precisava e, como combinado, eu fiquei na porta do banco aguardando a chegada de meu marido com o carro. Enquanto eu, pacientemente, o aguardava na calçada um sujeito chegou com seu carro e, sem a menor cerimônia, parou-o na vaga reservada para pessoas com deficiência. Como minha tolerância para esse tipo de situação é ZERO, dirigi-me até o “educado” senhor e solicitei que ele retirasse seu carro da vaga exclusiva, quando o seguinte diálogo aconteceu:
 
– Mas não tem nenhum deficiente aqui parado, então vou parar meu carro aqui mesmo!
– Senhor, se alguma pessoa com deficiência chegar não poderá parar o carro pois o senhor está ocupando a vaga a ele reservada por direito.
– E quem você pensa que é para me mandar tirar o carro???
– Sou uma cidadã.
Já exaltado, ele repetiu a pergunta:
– Mas quem você pensa que é para me mandar tirar o carro daqui?
– Sou uma cidadã.
O homem mais irritado retrucou:
– Quem você acha que eu sou?
Sem perder a calma respondi:
– Um deficiente social.
 
Nesse momento o homem se irritou e um certo número de pessoas já estavam ao nosso redor observando passivamente a confusão. Um policial militar interveio e pediu para que o homem retirasse seu carro da vaga. Claro que o policial e meu marido me deram bronca por não ter chamado a polícia antes de discutir com o sujeito, afinal ele poderia estar armado.
 
Depois do episódio vários questionamentos me vieram à mente. Será que a atitude desse sujeito seria a mesma caso ele, desde criança, tivesse convivido com pessoas com deficiência em sua escola? Por que as pessoas têm medo em fazer com que seus direitos e o direito do outro seja respeitado? Por que as pessoas tem medo, ou vergonha, de exercer a cidadania? Se, desde criança a inclusão da pessoa com deficiência existisse será que os deficientes sociais existiriam em menor número? Eu acho que sim e vocês, o que vocês acham?

Uma resposta para “Deficientes Sociais”

  1. Oi, me desculpe, mas dizer a uma pessoa que não está bem psicologicamente, que ele é um deficiente social me parece ter sido uma atitude de alguém que queria humilhar a outra pessoa, e este tipo de comportamento acaba sendo de mesmo nível, ou pior do que aquele que não pensou em outros. É difícil mesmo agir com cautela, mas a empatia serve para entender o sofrimento de quem causa sofrimento também.

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