Obesidade: risco também para pessoas com deficiência

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Daniel Limas, da Reportagem do Vida Mais Livre

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou, no segundo semestre de 2010, pesquisa que mostra que metade da população adulta do País (a partir de 20 anos) está acima do peso. No entanto, não existem estatísticas que indiquem se estes dados são maiores ou menores na população com deficiência – o que se sabe é que algumas deficiências ou algumas doenças acarretam mais chances de desenvolver a obesidade.

Em países como os Estados Unidos, a obesidade já vem sendo tratada como epidemia. No Brasil, essa mesma pesquisa do IBGE indicou que o excesso de peso em homens subiu consideravelmente, de 18,5% para 50,1%, em 2008-09, e o das mulheres, que era de 28,7%, foi para 48%. “Os índices de obesidade têm aumentado em todo o mundo, e não é diferente no Brasil. Inclusive, os indicadores apontam para o crescimento de obesos, não só entre adultos, como também no grupo de crianças e adolescentes. Atualmente, muitos fatores têm contribuído para isso, como maior sedentarismo, aumento no consumo de alimentos ricos em açúcares, gorduras e sal, lanches fast food, entre outros”, explica Solange de Oliveira Saavedra, gerente técnica do Conselho Regional de Nutricionistas de São Paulo e Mato Grosso do Sul.

Vale lembrar o conceito que a medicina dá para a obesidade: “Obesidade é um distúrbio da composição corporal definido pelo excesso absoluto ou relativo de gordura corporal e caracterizado por diversas manifestações clínicas singulares. Também pode ser medido pelo Índice de Massa Corporal (IMC) – peso da pessoa dividido por sua altura ao quadrado – acima de 30”, explica Dr. Cley Rocha de Farias, médico endocrinologista do Hospital das Clínicas da FMUSP.

Com as pessoas com deficiência, esse contexto não é diferente e, para alguns tipos de deficiência, é até pior. “A porcentagem de obesos é elevada, chegando a cerca de duas a três vezes maior, pois essa população tem o gasto energético diário diminuído, que, associado a motivos emocionais, aumenta a ingestão calórica”, explica Dra. Cláudia Cozer, endocrinologista e membro da diretoria da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade (ABESO). Ela lembra também que algumas situações aumentam as chances de a pessoa ter excesso de peso, como Síndrome de Down e Turner, acidentes na coluna vertebral e doenças neuromusculares.

Claudia CozerNo caso da Síndrome de Down (SD), os pacientes tendem a apresentar um abdômen saliente e tecido adiposo (gorduroso) abundante. “Além disso, eles têm dificuldades para se alimentar e para deglutir, o que pode afetar o seu estado nutricional. Mesmo assim, essas pessoas tem grande probabilidade de apresentar um alto índice de problemas de sobrepeso e obesidade, mesmo com ingestão insuficiente de vitaminas e minerais”, afirma Solange.

Segundo a nutricionista, outro fator que contribui diretamente para essa tendência de excesso de peso é que os indivíduos com Síndrome de Down apresentam um metabolismo basal – quantidade calórica ou energética que o corpo utiliza durante o repouso para o funcionamento de todos os órgãos – cerca de 10 a 15% mais baixo em relação a outros grupos da população. “Como consequência, as crianças com Síndrome de Down gastam menos energia e estarão sujeitas a um ganho maior de peso, podendo chegar à obesidade. Além disso, existe uma tendência a hiperfagia – ingestão compulsiva de alimentos – e episódios compulsivos por alteração no centro hipotalâmico da fome/saciedade, além de terem menor tônus muscular e menor metabolismo”, explica a Dra. Cláudia Cozer.

Há também pessoas com a Síndrome de Prader-Willi, uma alteração genética, mais frequente em mulheres, que gera um índice de obesidade de 100%. Essa síndrome pode levar à baixa estatura, deficiência intelectual e instabilidade emocional. “Em geral, essas pessoas apresentam uma hipotonia severa (pouco tônus muscular) e problemas alimentares na primeira infância, como fome insaciável, hiperfagia e obesidade mórbida”, explica Dr. Cley Rocha de Farias.

O médico também ressalta que outras duas síndromes relacionadas a pessoas com deficiência levam à obesidade: Bardet-Biedl e Laurence-Moon. “Ambas causam excesso de peso, estatura baixa, deficiência visual e intelectual. As pessoas com Bardet-Biedl têm polidactilia e as com Laurence-Moon têm paraplegia. Essas síndromes são pouco conhecidas e afetam apenas 0,1% da população”, complementa.

Pessoas com lesão medular também devem se preocupar com o aumento de peso. Além de estarem mais propensos ao sedentarismo, esses indivíduos podem ter funções metabólicas e hormonais afetadas, com disfunção em hormônios produzidos pela hipófise, pela adrenal e pela tireóide, que juntos controlam produção de insulina, hormônio de crescimento e outros.

Problemas causados pelo excesso de peso

A obesidade é considerada uma doença crônica multifatorial, e pode estar diretamente relacionada a diversos agravos à saúde, tanto do ponto de vista físico, como psicológico e até social. Médicos e demais profissionais que estudam este assunto apontam a relação que existe entre a obesidade e doenças cardiovasculares, hipertensão e colesterol elevado. Sabe-se também que, quanto maior o peso, mais risco a pessoa corre de se tornar diabética.

O que fazer para evitar a obesidade?

As recomendações sobre como evitar o excesso de peso não são muito diferentes para pessoas com ou sem deficiência. Em geral, o mais recomendado é que a pessoa com deficiência com excesso de peso busque auxílio do médico, nutricionista, psicólogo e educador físico. O trabalho em conjunto desses profissionais garante um resultado mais efetivo.

Homem e mulher grisalhos fazem refeição. O homem é cadeirante.Solange orienta que, sempre que possível, uma avaliação individualizada deve ser feita. “Cada pessoa tem necessidades distintas, de acordo com sexo, idade, biotipo, momento fisiológico (infância, adolescência, gestação, terceira idade, etc.), atividades que desenvolve (físicas e/ou profissionais), hábitos alimentares, se há alguma enfermidade que precisa ser considerada, entre outros fatores detectados durante anamnese alimentar”, explica.

Com base nesse levantamento, todos os envolvidos devem ser orientados sobre a melhor forma de conduzir a alimentação, para garantir boas condições de saúde, o que refletirá em qualidade de vida, independente da deficiência da pessoa em questão.

Mas além da alimentação, que tem por finalidade fornecer energia e nutrientes em quantidades diárias necessárias, deve-se aliar alguma atividade física regular, que será útil para manter um peso adequado e reduzir os riscos de doenças associadas à obesidade. “Porém, essa atividade deve sempre ser adequada ao biotipo da pessoa, às suas condições de vida e de saúde e às suas limitações ou deficiências”, orienta Solange. “A prática esportiva, inclusive, pode ajudar muitas pessoas a superarem suas deficiências e até se tornarem atletas paraolímpicos, que muito têm orgulhado o nosso país nos últimos anos, dando lições de vida para todos nós”.

Dicas:

– Fazer várias refeições ao dia (5 a 6), e em pequenos volumes por vez. Isso facilita a digestão e evita a sensação de fome, o que pode provocar um consumo exagerado na refeição seguinte;
– Mastigar bem os alimentos para propiciar uma melhor digestão;
– Consumir frutas, legumes e verduras diariamente para garantir vitaminas, minerais e mais fibras na alimentação, o que vai ajudar no bom funcionamento intestinal e evitar a prisão de ventre;
– Consumir diariamente alimentos fonte de cálcio (leite, queijo, iogurte, peixes, vegetais de folha verde escura, como espinafre, agrião, rúcula, brócolis, couve, etc.);
– Dar preferência aos alimentos integrais do tipo: arroz, pães, farinhas, bolachas, farelos de cereais, etc.
– Consumir menores quantidades de açúcar e doces, para evitar fermentação intestinal e a formação de gases (flatulência), além de diminuir o consumo calórico;
– Evitar o consumo de frituras e alimentos gordurosos, como toucinho, peles de frango, maioneses, etc., para controle do peso e do colesterol;
– Moderar no uso de sal e temperos prontos (estes têm muito sódio) para manter a pressão arterial estável;
– Evitar beber líquidos durante as refeições; deixar para os intervalos (facilita a digestão);
– Beber, no mínimo, 2 litros de líquidos por dia, de preferência água, para manter o corpo hidratado;
– Evitar o consumo de refrigerantes e bebidas alcoólicas (não fornecem calorias de valor nutricional).

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