Zé do Pedal: o ativista das mais variadas causas sociais

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Zé do Pedal empurra cadeira de rodas em estrada rodeada de desertoZé do Pedal, o apelido de José Geraldo de Souza Castro, de 56 anos, natural de Guaraciaba, na Zona da Mata do Estado de Minas Gerais, é o que se pode chamar de uma pessoa que não se aquieta diante de problemas sociais – um verdadeiro ativista.

Ele já visitou 78 países pelo mundo, em cinco continentes, e percorreu mais de 145 mil km. Já assistiu a três Copas do Mundo, passou por quatro guerras civis, enfrentou terremotos, sobreviveu a cinco furacões, conheceu os sofrimentos de crianças e adultos em campos de refugiados da guerra do Vietnã.

Seu apelido surgiu quando estava viajando pela Espanha, em 1981, durante uma entrevista para a Rede Globo. Os produtores esqueceram do seu nome e o chamaram de Zé do Pedal, por causa das suas conhecidas pedalas pelo mundo. Já conheceu lugares que marcaram a história, e histórias marcantes da seca, da fome e da miséria dos povos da África e do povo nordestino. Mais que isso, suas caminhadas já contribuíram para divulgar o combate ao câncer, a situação das crianças da Etiópia e do nordeste brasileiro, a poluição do Rio São Francisco e das águas do planeta, e a importância do combate ao glaucoma e à catarata.

Agora, na sua mais recente jornada, luta pela acessibilidade, causa não só dos 45,6 milhões de brasileiros com algum tipo de deficiência, mas de pais que empurram seus filhos em carrinhos, pessoas de mais idade e gente que está com dificuldade de locomoção, por exemplo, por causa de um gesso nas pernas.

Conheça mais um pouco da incrível história de Zé do Pedal e da sua atual jornada “Do Caburaí ao Chuí – Extremas Fronteiras Barreiras Extremas (Cruzada pela Acessibilidade)”, que iniciou em maio de 2014 e deve durar até maio de 2015, ao longo de mais de 10 mil quilômetros:

– Como e por que resolveu atuar como militante da acessibilidade? Em que data foi?
Zé do Pedal:
Foi em junho de 2008, durante minha viagem de Paris (França) a Johanesburgo (África do Sul), feita em um kart movido a pedal. Estava passando pela cidade de León, na França, quando ouvi uma jovem em cadeira de rodas dizendo que não poderia subir em uma calçada com 15 centímetros de altura.

Para mim, subir aquele passeio era a coisa mais normal do mundo. Mas, para ela, era um grande desafio. Percebi que o direito de ir e vir das pessoas com deficiência é negado muitas vezes. Depois, fui entender que a acessibilidade universal só é possível a partir de um espaço urbano concebido para todos, e isso é responsabilidade do poder público.

– Em que consiste o projeto “Cruzada Pela Acessibilidade” ?
Zé do Pedal:
Consiste em uma caminhada de 10.700 km, empurrando uma cadeira de rodas, saindo do extremo do estado de Roraima, passando por 20 estados: Roraima, Amazonas, Pará, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia, Goiás, Brasília, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, chegando em Chuí, fronteira Sul com o Uruguai.

Ao longo de um ano, tenho como objetivo ministrar palestras em escolas nas comunidades visitadas, visando atrair a atenção das crianças sobre um dos principais problemas que afetam as pessoas com deficiência: as barreiras arquitetônicas, e projetar uma imagem diferente da pessoa com deficiência, que não gere pena, apenas igualdade, dignidade e respeito.

Para alcançar este objetivo, depois das palestras, em parceria com o Lions Clube do Brasil, são distribuídas cartilhas, em formato digital, da Convenção da ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência.

– Qual o objetivo do projeto?
Zé do Pedal:
Conscientizar a população para as necessidades básicas da livre locomoção das pessoas com deficiência, projetando conceitos de igualdade, dignidade e respeito, e eliminando barreiras arquitetônicas e sociais que dificultam que esse público participe ativamente da vida social, formando um mundo mais justo e humano.

– Você fez algum preparo antes de iniciar a jornada?
Zé do Pedal:
Comecei fazendo caminhadas de cerca de 6 km, na Universidade de Viçosa, cidade mineira onde moro. Nos fins de semana, aumentava essa distância para 25 km. E, conforme ganhava resistência e condicionamento, aumentava a distância, até chegar aos 50 km.

– Qual é a sua rotina de viagem? Onde dorme? O que come?
Zé do Pedal:
Hoje, em média, percorro 50 km por dia, empurrando uma cadeira de rodas com equipamentos, saco de dormir, roupas, num total de 35 kg.

Acordo 5 da manhã e termino minha jornada às 5 da tarde. A cada 2 ou 3 km, paro por uns 10 minutos para tomar água, um café, e descansar um pouco. Almoço ao meio-dia e, ao longo da caminhada, como algumas frutas.

Já cheguei a dormir no meio da Amazônia, na casa de pessoas, em pousadas e até hotéis cinco estrelas – oferecidos pelos empresários. Não há uma rotina. A história da minha jornada é escrita pelas pessoas das cidades que visito.

Continuo minha jornada mesmo com sol e chuva, frio ou calor. Não tem tempo ruim.

Zé do Pedal em palestra dentro de Câmara de Vereadores– Cite alguns dos principais resultados até agora.
Zé do Pedal:
Em cada cidade que visito, procuro entregar uma proposta de lei para a Câmara de Vereadores ou para o Prefeito, solicitando que todo município seja obrigado a ter um Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência. Assim, esse conselho poderia exigir que qualquer obra na cidade fosse projetada segundo a acessibilidade universal.

Além disso, a minha passagem pelas cidades tem provocado muita divulgação por parte da imprensa, o que ajuda bastante a divulgar a causa. Realizo palestras, promovo a discussão do tema, e incentivo a aplicação da Norma de Acessibilidade 9050, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

Como curiosidade, já consegui a promessa de donos de hotéis, pousadas e estabelecimentos por onde passei, de melhorar a acessibilidade desses locais.

– Quais as maiores dificuldades que você já viveu durante a sua jornada?
Zé do Pedal:
Já passei muito calor durante minhas caminhadas pelo Nordeste brasileiro. Mas a maior dificuldade é conseguir falar com o gestor municipal, o prefeito, ou mesmo um representante da Câmara Municipal. Quase sempre, não passo de um secretário.

Nesse caso, quando não consigo, procuro algum político da oposição.

– Em suas viagens, quais são os maiores problemas de acessibilidade que você encontra?
Zé do Pedal:
No geral, falta tudo. Já vi muita escada cortando calçada, rampa de acessibilidade que acaba em parede, vala e buraco, calçada com rampa em apenas um dos lados, piso tátil que acaba em uma parede, pessoas que precisam disputar espaço com carros e ônibus, e por aí vai.

No geral, os shoppings são os lugares que apresentam as melhores condições de acessibilidade. Mas, quando a pessoa com deficiência sai desses lugares, a acessibilidade acaba.

– Quais são seus planos para o futuro? Aonde quer chegar?
Zé do Pedal:
Depois dessa longa caminhada, a jornada ainda não acaba. Quero sentar em minha casa, ligar para todas as Câmaras Municipais e auxiliar na criação dos Conselhos Municipais das Pessoas com Deficiência, além de pedir que a Norma 9050, da Acessibilidade, seja aplicada.

Também penso em voltar à universidade, mas não visualizei nada de mais. Só quero deixar meu mundo melhor que quando cheguei.

Fotos: Divulgação

Colaborou: Giovana Villari

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