Edson Dantas: correndo pela vida

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Após um gravíssimo acidente de trem, Edson Dantas recomeçou sua vida e iniciou no atletismo. De lá pra cá, coleciona vitórias, pódios e medalhas.

Edson Dantas está correndo num estádio

Por Daniel Limas, da Reportagem do Vida Mais Livre

Edson Dantas nasceu em 1966 em Itamaraju, na Bahia. Como qualquer criança, Edson Dantas brincava e estudava. E, como boa parte das crianças dessa região, começou a trabalhar muito cedo, aos 12 anos, para ajudar no sustento da casa. Até que aos 17 anos, em busca de uma vida melhor, Edson deixou sua cidade natal, e veio pra São Paulo buscar trabalho. Sua primeira chance foi em uma padaria. Pouco tempo depois, entrou como cobrador de ônibus em uma empresa de transporte coletivo urbano. Nos finais de semana, tinha o costume de jogar futebol e sair para dançar com os amigos.
Após mais um dia de trabalho, ao invés de ir pra casa como nos outros dias, Edson decidiu visitar sua tia. Ele, que sempre voltava de ônibus para casa, optou pelo trem por ser mais rápido. Por volta das 17h, entrou na estação Engenheiro Goulart, da linha 12 da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), em São Paulo, e ao embarcar no trem, não foi difícil perceber que o trem estava lotado. Até que algumas estações depois…

“Naquela época, mesmo cheios, os trens circulavam de portas abertas e eu estava próximo a uma delas. Eu só me lembro que houve um tumulto e começaram a gritar ‘é arrastão, é arrastão’. Então, eu tentei segurar minha bolsa e foi aí quando um dos caras puxou minha bolsa e me empurrou do vagão em movimento”, recorda Edson Dantas. “Tentei me segurar na porta, mas não consegui. Caí entre a plataforma e o trem, que foi me arrastando.” Isso aconteceu em 25 de maio de 1992, quando tinha 26 anos.

Ele também se lembra que duas ou três pessoas o tiraram da linha do trem e que as pessoas gritavam ‘roubaram ele, vamos tirar ele daqui antes que venha outro trem’. Encaminhado para o pronto socorro, pouco se lembra das primeiras horas no hospital, pois ficou um dia em coma. Permaneceu um mês internado devido à gravidade dos ferimentos, que provocaram a amputação da perna direita. Três meses depois, voltou ao hospital para refazer a cirurgia em seu braço, que também foi bastante ferido.

Edson Dantas Depois desse período, teve início o processo de reabilitação. E sua família teve papel importantíssimo nessa etapa. “Sem eles, com certeza não estaria aqui. Eles foram decisivos para a minha aceitação. Eu me sentia muito mal”, conta Edson. Sua primeira prótese foi colocada após seis meses do acidente. “Me lembro que em uma das visitas que eu recebia no leito do hospital, apareceu uma pessoa mostrando uma foto de uma prótese e o fisioterapeuta comentou que aquela poderia ser uma opção para mim. Quando soube que poderia colocar uma perna nova, mesmo que de mentira, aceitei na hora, pois tudo o que eu queria era sair dali. Desse dia em diante, minha família começou a correr atrás de informações sobre como poderiam conseguir uma para mim”. Ele também se diz muito agradecido pelo apoio que recebeu de amigos do trabalho para poder comprar sua primeira prótese. Um ano após o acidente, Edson voltou a trabalhar na mesma empresa, onde continua até hoje.

E a vida continou… até que em 2000, em uma conversa com o técnico em próteses que havia desenvolvido a de Edson, surgiu um comentário de que ele tinha uma certa facilidade e habilidade com movimentos. “Acredito que seja pelo fato de ter jogado capoeira antes do acidente”, conta. “Esse profissional, o Mergulhão, indicou um clube que dava treino para o esporte adaptado. Passaram-se alguns anos e resolvi conhecer o lugar. O curioso foi que eu comecei por meio da natação, mas eu reparava nas pessoas que corriam na pista e comentei com o professor que eu queria tentar correr. Pensei comigo: ‘se eles podem, eu também posso’”. Foi aí que tudo começou! “Quando dei minha primeira volta na pista, me apaixonei pela corrida”, recorda-se.

A partir daí, tem início a história de um dos melhores corredores nas distâncias de 5 mil e 10 mil metros na categoria de amputados de membro inferior do mundo. Já são mais de 300 medalhas e 40 troféus, todos expostos na sala de sua casa. Suas principais conquistas são: cinco vitórias em sua categoria, na São Silvestre (2003, 2005, 2008, 2009 e 2010) e três vitórias da Maratona de Nova York (2008, 2009 e 2010). Ele também coleciona três recordes referentes às maratonas de Porto Alegre (1.500 e 5.000 metros em junho de 2007) e à Meia Maratona da Corpore de São Paulo (1.500 metros em abril de 2007), além de, em 2008, ter sido o primeiro lugar da Meia Maratona Internacional do Rio de Janeiro, Braskem, Hope & Possibility.

Para aqueles que se inspiraram na história de Edson, mas não sabem por onde começar, ele diz que o início das atividades físicas pode ser feito com uma prótese simples. Mas, recomenda buscar o apoio de profissionais da área. Ele também faz questão de reforçar que a rotina de treinamentos é pesada. “Duas vezes ao dia faço corrida, natação e ciclismo. Corro 140 km por semana”, conta. Outra questão bastante difícil na vida da grande maioria dos atletas é o patrocínio.

“Já pensei em desistir algumas vezes, geralmente, quando fui obrigado a mexer na renda da minha família para custear despesas. Hoje, ainda dependo do meu salário de cobrador de ônibus, mas conto também com o apoio da Otto Bock, da Asics e do Instituto Mara Gabrilli”, orgulha-se. Mas apesar das dificuldades, “não penso em parar de correr, nunca. Enquanto Deus me der vida e saúde eu quero correr. Correr pela vida”, finaliza Edson.

Outras conquistas:

Campeão Corrida e Caminhada GRAAC – São Paulo – 10km (Maio de 2009)
Campeão Corrida do Trabalhador SINDEEPRES – São Paulo – 10KM (Maio de 2009)
Bi campeão Meia Maratona Internacional de São Paulo/Corpore – 21km (Abril de 2007 e Abril de 2009)
Campeão da 25 K/Corpore – 25 Km (Maio de 2009)
Campeão Meia Maratona Internacional – 21 Km (Março de 2009)
Campeão 5ª Corrida Cidade de Aracajú – 25 Km (Março de 2009)
Campeão 10k Rio Panamericana – Rio de Janeiro – 10km (Dezembro de 2008)
Campeão Meia Maratona Internacional do Rio de Janeiro – 21 Km (Outubro de 2008)
Campeão Meia Maratona Internacional do Rio de Janeiro – 21 Km
Campeão 6ª Maratona Hope and Possibility – 5km (Junho de 2008)
Campeão Corrida pela Paz/Amcham – 8km (Setembro de 2007)
Tri-Campeão Corrida Duque de Caxias – 10km (Agosto de 2007)
Bi-Campeão 10 Km de São Paulo Classic – Zumbi dos Palmares – 10km (2005 e 2006)
Tri-campeão Corrida dos Bombeiros/Corpore – 10km (2004, 2005 e 2006)
Campeão Circuito Paraolimpico da CEF de Natação e Atletismo 10km – Etapa pelo Brasil (Novembro de 2008)
Campeão Meia Maratona Braskem – Maceió – 21km (Setembro de 2008)

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