O primeiro emprego foi como eletricista, em uma empresa de sua cidade natal, Brusque, a cem quilômetros de Florianópolis, Santa Catarina. Mas a vaga ele ocupou durante apenas um mês. A vocação para as competições de ciclismo falou mais alto. Os fios de cobre deram lugar às pistas de terra ou asfalto. E Soelito Gohr trocou a energia elétrica pela força das pedaladas.
O atleta começou no esporte em 1986, aos 13 anos. Hoje, treina seis vezes por semana, em média de três a quatro horas por dia. Em 2009, ganhou duas medalhas no campeonato mundial paraolímpico, realizado em setembro, na Itália. Uma de bronze, na prova de contra relógio, e outra de ouro, na disputa de estrada.
A contra relógio é uma prova individual. Cada ciclista percorre o trajeto sozinho. Aquele que cumprir a distância em menor tempo é o vencedor. Nas corridas de estrada, os atletas conduzem as bicicletas por ruas ou rodovias das cidades, ao mesmo tempo. Nesse tipo, é muito comum ver pelotões de competidores realizando ultrapassagens e buscando melhores colocações no percurso.
A bicicleta com a qual desbravou os primeiros caminhos foi herdada do irmão. Para implementar novidades, realizar reparos ou adquirir outras contou com a ajuda financeira da mãe, professora atualmente aposentada. No entanto, em 1995, quem precisou dar uma aula de motivação e empenho foi o próprio atleta.
Naquele ano, uma Kombi parou atravessada em via pública, para entrar na garagem de uma casa. Soelito, que descia a rua em alta velocidade, não teve tempo de parar. O choque lhe causou danos no braço esquerdo, limitando seus movimentos. O processo de recuperação envolveu fisioterapia e hidroterapia, e fez com que ele ficasse cinco meses sem pedalar.
O atleta voltou às competições convencionais e, há pouco mais de dois anos, obteve autorização do Comitê Paraolímpico para participar de disputas na categoria LC1, para quem tem lesões nos membros superiores. Assim, nas paraolimpíadas de Pequim, em 2008, alcançou o quarto lugar no ciclismo de perseguição. Na prova, os competidores correm nos velódromos, em circuitos ovais.
Agora, Soelito já se prepara para o próximo campeonato mundial, na Colômbia, em 2010. Em seu blog, há um relógio, que conta até os segundos para as Paraolimpíadas de Londres, em 2012. Ele também compõe a equipe Scott/Fadenp, de São José dos Campos, em São Paulo, onde treina em algumas temporadas. Sempre em busca de superar recordes, deixa um recado: “Nunca devemos desistir, mas sempre aproveitar a vida da melhor forma, tendo ela nos trazido adversidades ou não”.
Soelito Gohr, 37 anos
Mãe: Sulamar, professora aposentada
Pai: Lauro (in memorian), açougueiro
Irmãos: Silvana (in memorian), Sidnei e Samuel (in memorian)
Mulher: Marcia Appel
Filha: Hannah Marina
Vida Mais Livre: Alguém anda de bicicleta na família?
Soelito: Sim, minha esposa já se aventurou em provas da cidade e meus primos também participam de competições estaduais e nacionais. Sempre que possível, minha esposa e minha filha vão comigo.
Vida Mais Livre: No seu blog, você está definido como o animador oficial da equipe Scott/Fadenp. Por quê?
Soelito: Sempre faço brincadeiras, assim podemos descontrair um pouco e quebrar o gelo da concentração.
Vida Mais Livre: Foi fácil comprar a sua primeira bicicleta?
Soelito: Nada foi fácil. Minha mãe sempre me ajudou financeiramente. A minha primeira bicicleta herdei do meu irmão… depois fui adquirindo outras conforme as novidades.
Vida Mais Livre: Qual o modelo da bicicleta que usa atualmente e as adaptações necessárias?
Soelito: Scott, sem nenhuma adaptação.