“Eu tirei a roupa, saí correndo e saltei. A piscina tinha 1,30 metros e eu 1,85 de altura. Foi aí que me quebrei todo. Quebrei meu espírito, meu ego e levei pelo menos cinco anos para juntar todos os caquinhos”. O depoimento é de Washington da Conceição Moura, um dos atletas do time de Rugby em Cadeira de Rodas da ADEACAMP (Associação de Esportes Adaptados de Campinas), que ficou tetraplégico num acidente envolvendo mergulho em água rasa.
Assim como ele, outras pessoas da equipe também ficaram tetraplégicas da mesma forma. De acordo com a Sociedade Brasileira de Coluna (SBC), essa é a segunda maior causa de lesão medular no verão e a quarta em outras épocas do ano. Cerca de 90% das vítimas são jovens com idade entre 10 e 30 anos.
Rafaela Aguiar, fisioterapeuta que atende a equipe de atletas, confirma a estatística no consultório. Ela afirma que pacientes com tetraplegia trazem um histórico de brincadeira na piscina. “Os acidentes ocorrem tanto no momento do mergulho quanto no momento em que estão no pescoço de um amigo, caem e batem a cabeça na borda”, explica.
Foi o que aconteceu com Bruno Damasceno, também atleta de Rugby. Em 2004, quando tinha 16 anos, ficou tetraplégico ao saltar em uma piscina. “Era um mortal, mas deu errado. Na hora que eu senti, pensei ‘o que está acontecendo?’, porque a gente não imagina a gravidade”, relembra. Ele foi levado ao hospital e depois de realizar diversos exames, foi constatado que Bruno tinha fraturado a vértebra C7, parte da C6 e tido uma lesão na medula.
A fisioterapeuta explica que casos como esses são muito complexos e exigem tratamento imediato tanto para a parte física, quanto para a psicológica. “Quando a gente tem um trauma, um mergulho de piscina rasa, a gente tem uma lesão na cervical e o primeiro momento é bem delicado”, explica. Para ela, a razão de tantos casos como esses é a falta de conscientização dos riscos que existem durante os banhos de piscina e rios, principalmente durante as estações mais quentes. “A gente sabe que pode acontecer, mas a gente nunca acredita. Mesmo durante a brincadeira, é preciso avaliar os riscos e escolher uma forma mais segura de brincar”, reforça.
Dicas para evitar acidentes:
– Não mergulhe em águas turvas ou desconhecidas;
– Não mergulhe após ingerir bebida alcoólica ou outras substâncias que atrapalhem os reflexos;
– Evite empurrar pessoas para dentro da água;
– Cuidado ao tentar ajudar uma pessoa que sofreu este tipo de lesão: caso ela mexa a cabeça, poderá piorar a lesão. Certifique-se que a pessoa esteja imobilizada e chame ajuda médica para uma avaliação adequada.
Riscos que o mergulho em águas rasas pode causar:
– Paralisia de pernas e braços
– Danos para coluna vertebral
– Lesões como fratura e luxação
– Problemas neurológicos
– Trauma de crânio
– Fratura nos pés e mãos
Rugby e a recuperação
O processo de aceitação é um dos mais difíceis para quem sofre o acidente. Cada pessoa tem o seu tempo e varia de organismo para organismo. “Tem que haver muita paciência, muita eletroestimulação para ter a resposta do nervo e ajudar que a sinapse seja feita novamente por outros gânglios. É uma fisioterapia eterna e o primeiro ano é essencial”, explica a fisioterapeuta.
Além da parte física, as vítimas desses acidentes também precisam conhecer uma vida nova. “O acidente pega a gente de surpresa e é preciso mudar completamente a nossa rotina”, conta Bruno. É nesse momento que o esporte possui um papel fundamental não apenas para o desenvolvimento físico, mas também mental, já que é uma forma de aumentar a independência de quem convive com a tetraplegia. A prática auxilia no aprendizado e na socialização. “O esporte é tudo! Para mim, foi muito bom. Eu já era atleta antes do acidente, então eu continuei sendo atleta”, reforça Bruno.
Para Washington, o Rugby foi responsável por uma grande transformação. O apoio da família e das amizades foi fundamental para que ele seguisse, mas foi em 2004, depois que ele se mudou para Campinas, que ele se conscientizou de que tinha novos desafios pela frente. “Acredito que o Rugby veio no momento adequado. O esporte me fortaleceu mais como pessoa e eu acabei entendendo sobre como me recuperar”, explica.
Ele nunca havia tido contato com pessoas com deficiência, mas depois do acidente, passou a estudar sobre o assunto e lutar por seus direitos. “Eu tive que entender que pessoa que nasce com algum tipo de deficiência ou adquire algum tipo ao longo da vida não é uma pessoa que vive em um caixinha. O Rugby foi a oportunidade para que eu pudesse crescer como atleta, como pessoa e voltar a ser respeitado. São anos de experiência e de entendimento em lidar com cada um que entra, sofre um acidente e precisa de acolhimento”, completa.
Da assessoria de imprensa