Discriminação e preconceito

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Diariamente, tomamos conhecimento ou assistimos cenas de discriminação em ambientes privados, públicos ou nas mídias sociais.

Conceituamos a discriminação como o tratamento injusto dispensado a um indivíduo, ou grupo de indivíduos, em razão de alguma condição física, sensorial ou cognitiva, gênero, crença, cor da pele, classe social, orientação sexual, etc. Compreendemos a discriminação como a corporificação de preconceitos, alguns explícitos e outros que ficam encobertos, os chamados inconscientes.

Preconceitos explícitos ou inconscientes causam – às pessoas envolvidas e ao entorno – um mal muito grande, deixa-nos sensações desagradáveis como um gosto amargo na boca e o sentimento que há algo muito errado permeando as relações sociais.

A concretização do preconceito por meio da discriminação é uma forma que algumas pessoas utilizam para se tornarem celebridades, pois alguns grupos apreciam aquelas sem papas na língua, que demonstram coragem pueril e dizem que não se preocupam de serem odiadas e rejeitadas pela maioria.

Um dos exemplos atuais de pessoa preconceituosa e comportamento discriminatório é a desembargadora do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro Marília Castro Neves.

Percebam como o comportamento deletério de um indivíduo como ela é capaz de provocar os piores sentimentos como ódio e ira e também a agressividade. A desembargadora postou no Facebook, em um grupo de magistrados, um comentário que “o Brasil é o primeiro país a ter uma professora portadora de síndrome de Down!”. Aí ela se pergunta: “o que será que essa professora ensina a quem????”

Apesar de ter escrito esta barbaridade há três anos, a publicação – claramente preconceituosa contra as pessoas com deficiência e discriminatória contra Debora Seabra – só veio a público em março deste ano, após a desembargadora ter feito comentários ofensivos e divulgado mentiras contra a vereadora carioca Marielle Franco (PSOL), assassinada a tiros na cidade do Rio de Janeiro em 14 de março último. Posts dela de cunho machista e homofóbicos são frequentes.

Milhões de pessoas, partidos políticos e associações dos mais diferentes matizes criticaram as falas da verborrágica desembargadora. As postagens lhe renderam três investigações no Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

A resposta de Debora Seabra – a professora insultada – foi amena e assertiva por meio de uma carta dirigida à desembargadora. Em entrevista ao jornal O Globo ela afirma: – Eu não queria bater boca com aquela juíza, não queria brigar. Mas ela precisava saber que estava cometendo um crime ao dizer aquilo.

Débora escreveu: “Eu ensino muitas coisas para as crianças. A principal é que elas sejam educadas, tenham respeito pelas outras, aceitem as diferenças de cada uma, ajudem a quem precisa mais. (…) O que eu acho mais importante de tudo isso é ensinar a incluir as crianças e todo mundo para acabar com o preconceito, porque é crime. Quem discrimina é criminoso”.

Na semana passada, Marília Castro Neves voltou às redes sociais para desculpar-se com Debora Seabra. No post, a desembargadora agradece à professora pelas palavras que a fizeram “refletir muito. Bem mais do que as centenas de ataques que recebi nas últimas semanas”.

Continua afirmando que “… de tudo que li e ouvi a meu próprio respeito, foi de você, (…) que me veio a maior lição: a de que precisamos ser mais tolerantes e duvidar de pré-conceitos. Minhas posições pessoas jamais interferiram nas minha decisões, conhecidas por serem técnicas e, por isso mesmo, quase sempre acompanhadas unanimemente pelos meus colegas de turma julgadora”.

Um pedido de desculpas que, ao longo do texto, se transforma numa peça de defesa? Ou um aceno pra que tudo acabe em pizza?

O que conselheiras e conselheiros do CNJ acharão disso?

Será que nestes bons e rigorosos tempos para julgar atos de corrupção, membros do Judiciário também serão tratados com justiça?

Será que o CNJ irá concordar com a professora Debora Seabra que acredita que quem discrimina é criminoso?

Esta é uma coluna regular no Vida + Livre. Comentários? Críticas? Ideias para futuras colunas? Envie-me um e-mail ou faça nos comentários.

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