Conheça 4 projetos de tecnologia assistiva desenvolvidos por startups brasileiras

As iniciativas contemplam desde dispositivos eletrônicos para alertar cegos sobre obstáculos aéreos, reservar vagas para pessoas com deficiência física até plataforma de vídeo com intérprete de Libras

Foto do símbolo de pessoa com deficiência física pintado no chão
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Confira a seleção feita pelo portal Canaltech de tecnologias assistivas desenvolvidas por startups para ajudar pessoas com deficiência.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 45 milhões de brasileiros possuem algum tipo de deficiência, o que corresponde a quase 25% da população total do país. Cabe à tecnologia, que tem facilitado a vida das pessoas em geral, trazer inovações para tornar a vida das pessoas com deficiência a melhor possível. E temos boas novas: a inclusão digital desse público tem se mostrado cada vez mais ampla.

O Canaltech entrevistou alguns especialistas para entender como a tecnologia assistiva tem ajudado tanta gente, de tantas maneiras. E ela vai muito além do que as opções de leitura em voz alta que você encontra no seu celular.

Para Carolina Ignarra, a fundadora da Talento Incluir — uma consultoria que promove a relação entre profissionais com deficiência e o mercado de trabalho — não há dúvidas que a tecnologia já incluiu o tema acessibilidade nas suas demandas, especialmente quando desenvolve algo para alguém com alguma necessidade específica. “Porém, quando um aplicativo vai atingir a massa, por exemplo, ainda não existe essa preocupação de contemplar as pessoas com deficiência (PCD). Existem projetos que têm pensado nas necessidades de pessoas com deficiência, mas esses são bem pontuais. Aqueles que resolveriam os problemas de todos, inclusive das PCD ainda não se preocupam com o tema”.

No Brasil, ainda há muito caminho a percorrer para ajudar nichos específicos, como os de quem aprendeu sem escutar, sem enxergar, com autismo, déficit de atenção etc. “Mesmo assim temos tentado. Batemos na porta de vários desenvolvedores explicando a necessidade, mas ainda não houve interesse real. Talvez porque os produtos já existentes no mercado já atendem a uma massa significativa e vendem muito a ponto de não despertar interesse nessa extensão do benefício para atender a uma fatia menor que é a população com deficiência. Eles não se negam a fazer de cara, mas na prática não nos atendem”.

Mas o horizonte é de melhora: existe uma melhora muito grande em relação ao preconceito, principalmente porque já temos muito mais informações sobre os potenciais das pessoas com deficiência. “Não somos mais desconhecidos da sociedade. Quando me tornei cadeirante, por exemplo, levei três meses — e eu fui mais rápida que a média — para saber qual o modelo de cadeira de rodas mais adequado para a minha utilização. Para saber, por exemplo, como adaptar o carro para eu poder dirigir levei seis meses”, relata. “Hoje em dia, as pessoas que precisam têm essa informação em poucos cliques com a ajuda da internet. Têm acesso às informações especializadas, preços, modelos, onde comprar muito rapidamente, o que ajuda, inclusive, no processo de adaptação à nova condição. No quarto de hospital, as pessoas já se conectam com outras pessoas e começam a entender como iniciar a reabilitação e como vai ser a vida dela. Isso aumenta a representatividade”, completa.

Carolina ainda conta que, em sua época, teve dificuldade de achar uma pessoa com deficiência para trocar experiência. “Hoje a tecnologia por meio de canais como as redes sociais nos aproximou. Antes das redes sociais, a cultura do nosso país ficava presa às redes de TV e nos jornais. Era só o que chegava e as pessoas com deficiência não estavam na pauta”.

A era digital possibilitou mais qualidade às pessoas com deficiências severas, a ponto de impactar sua independência nas ruas, e a tecnologia tem ajudado também na prática, conectando pessoas e trazendo ferramentas bastante úteis, como assistentes de leitura e apps que traduzem Libras, por exemplo, para melhorar a comunicação. E comemora: “[Essas tecnologias] Trazem novas oportunidades não só de trabalho, mas todo o resto que podemos acessar no mundo digital”.

Tendo isso em mente, o Canaltech traz alguns exemplos de tecnologias que visam facilitar a vida desse público.

Sistema de Leitura para pessoas com deficiência visual

Neste ano, alunos do sétimo ano do colégio Vital Brazil, Matheus Sousa, Rafael Gomes e Lucas Yamada criaram um leitor digital para dar autonomia a pessoas com deficiência visual na leitura de textos digitais que não foram escritos em Braille. Por meio de um circuito de arduíno, o leitor digital recebe comandos utilizando o código Morse que transforma o alfabeto português em Braille. A partir dessa base, a codificação das palavras é registrada por pinos que se levantam simultaneamente para quem é cego poder tocá-los e fazer a leitura do texto. Os mesmos pinos emitem sons em uma determinada sequência, representando cada letra do Braille, criando assim, a opção de ouvir a descrição do documento.

“O nosso projeto quer mostrar que uma pessoa com deficiência visual ou cega pode ser autônoma se tiver acesso a recursos mais diversificados, e não ficar restrita apenas com obras públicas em Braille”, diz Matheus, um dos alunos, que deseja aplicar o projeto em bibliotecas públicas de São Paulo.

Reservador de vagas

Um grande problema no cotidiano de pessoas com dificuldade de locomoção é chegar em shoppings, bancos ou supermercados e não encontrar as vagas prioritárias. Até porque, em várias ocasiões, já foram ocupadas por quem não precisa. Para ajudar na solução deste problema recorrente, a Came do Brasil, uma empresa de produtos para automação de acesso, trouxe para o país o Unipark, uma barreira eletrônica instalada dentro da vaga e, por controle remoto, pode ser acionado para levantar e impedir que um veículo não autorizado estacione no local.

“O Unipark é ideal para reservar o estacionamento e impedir que a pessoa que realmente necessite da vaga não tenha nenhuma à disposição. Atualmente até os shoppings estão multando quem para em vaga prioritária. Este sistema evita isso. O carro com o cartão para vagas de deficientes ou de idosos pode ser identificado por um guarda ou mesmo pelo sistema de câmera. Quando o veículo chegar próximo da vaga, o sistema é acionado e abaixa a cancela”, explica o Marco Barbosa, diretor da empresa.

Rastreador de obstáculos

O dispositivo VibSense, que está em fase de desenvolvimento pela startup VibEye, funciona como um complemento para a tradicional bengala guia, ao avisar uma pessoa com deficiência visual da existência de obstáculos aéreos. O equipamento é formado por um cilindro fino de aproximadamente dez centímetros, com um clip, que permite que seja colocado no bolso de uma camisa, pendurado em um colar ou, até mesmo, acoplado a um boné. A proximidade de obstáculos aéreos é detectada por um sensor, que envia um sinal a uma pulseira vibratória, no braço do usuário. Assim, ele é avisado da ocorrência de uma situação potencialmente perigosa no seu caminho e pode evitá-la. A guia consegue identificar o que está no chão, como um poste ou uma placa, mas o VibSense é que possui a capacidade de avisar sobre obstáculos que estão suspensos, que não têm um vínculo com o solo. O dispositivo não substitui a bengala, mas se torna um complemento bastante eficiente, que visa melhorar muito a mobilidade de pessoas cegas ou com baixa visão pela cidade.

O dispositivo da VibEye já está em fase de desenvolvimento e deverá ser lançado ainda neste ano. A empresa já criou uma lista de espera em seu site, para que os interessados em adquirir o VibSense. O site é acessível para softwares leitores de tela.

Videoconferência em Libras

A startup Signum Web – criou uma plataforma de videoconferência para traduzir conversas em tempo real para Libras – oferecendo um atendimento mais qualificado à fatia da população brasileira com deficiência auditiva. A Rede de Cuidados de Saúde (RCS), que está participando da startup, almeja oferecer gratuitamente o serviço de tradução online a pacientes surdos para toda sua rede assistencial. De acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), cerca de 5% da população brasileira é surda. Isso equivale a 2,7 milhões de pessoas que não escutam nada.

“Esse imenso contingente busca atendimento médico e não encontra infraestrutura adequada para ser claramente compreendido. Basta imaginar a dificuldade de um paciente em relatar um quadro clínico sem conseguir ouvir o médico, sem entender o que está sendo prescrito”, aponta o diretor da RCS, Dr. Ricardo Cabral. “Ao disponibilizar no mercado de saúde uma ferramenta que proporciona a tradução em tempo real, também oferecemos um grande avanço em qualidade de atendimento”, acrescenta.

A Libras é uma língua viso espacial e conta com gramática e estrutura próprias, essenciais para que a comunidade surda se comunique e tenha acessibilidade em todos os lugares. Desenvolvida por um grupo de jovens liderado por Felipe Barros da Silva – que possui deficiência auditiva — a plataforma web dispõe de intérpretes qualificados para fazer a comunicação em LIBRAS online, em tempo real. Funciona assim: ao detectar um paciente surdo, o profissional da saúde aciona virtualmente o tradutor para intermediar a comunicação. Desta forma, o paciente surdo, vai, em tempo real, se comunicando com o ouvinte.

Comunicar-se é um direito do ser humano. “É com essa visão que estamos trabalhando para a popularização da ferramenta”, enfatiza Cabral. Além de consultas e atendimentos médicos, a plataforma Signum Web também é aplicável em diversas situações: de entrevistas de emprego, a atendimentos bancários, utilização de serviços, compras, até mesmo em aeroportos e rodoviárias. “Priorizaremos a área da saúde. Mas a solução é válida para intermediar a comunicação nos mais diversos ambientes”, finaliza o médico.

Fonte: Canaltech

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