Maternidade com deficiência: advogada dá o primeiro passo para um dia ser mãe

Nathalia Blagevitch conta desafios e início da sua preparação com congelamento de óvulos

Foto da barriga de uma mulher que está sentada e com o umbigo à mostra. Ao fundo, há a sombra de um coração na parede.
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Há muitos tabus que envolvem a questão da mulher com deficiência, principalmente quando o assunto é ter filhos. Pode? Não pode? O melhor a fazer, para quem tem dúvidas, é buscar um profissional da área. Outra dica é não julgar.

A orientação é de quem vive isso na pele: Nathalia Blagevitch, advogada, palestrante, professora e idealizadora do Caminho Acessível. Independente, aos 27 anos de idade, ela escolheu congelar seus óvulos para planejar melhor sua vida e ter uma segurança no caminho de realizar sua vontade de ser mãe. Nathalia nasceu com hemiplegia, um tipo de paralisia cerebral que limita a mobilidade da parte direita do seu corpo. Ela costuma ouvir, com frequência, muitos julgamentos de pessoas dizendo que não pode ter filhos ou até mesmo o que pode ou não pode fazer com base no simples fato de ter deficiência.

Após seus 24 anos, começou a pensar seriamente sobre a maternidade. “O meu maior receio era ter algum tipo de obstáculo para ter filhos. Além da questão da deficiência, a idade também me preocupou. Por isso, resolvi me precaver como um primeiro passo para a realização do meu sonho. Para completar, em dezembro do ano passado, veio a confirmação do diagnóstico de fibromialgia”, disse.

Após muita pesquisa na internet, Nathalia resolveu consultar uma médica ginecologista, obstetra especialista em reprodução humana para fazer uma investigação mais aprofundada sobre suas possibilidade.

“Logo na primeira consulta, a profissional disse que a minha deficiência não era impedimento para ter filhos e que podia fazer logo o congelamento de óvulos. Eu me senti muito segura. A doutora estava muito tranquila em relação ao fato de ter deficiência física e querer ter filhos. Isso me deu muita paz de espírito para fazer o procedimento. Hoje, fico feliz com a possibilidade de dizer que, em muitos casos, a mulher com deficiência pode, sim, ter filhos e planejar a maternidade”, disse.

Como lidar com o tabu

Com a notícia, a advogada fez os exames preparatórios que qualquer mulher faria para realizar o congelamento dos óvulos. Ela compartilha como se sentiu após o procedimento. “Tirei foto da minha barriga, curti muito e não senti nada demais. Foi um momento de muito amor e gratidão. Tudo isso porque, apesar da deficiência, eu consigo fazer o que eu quiser. Percebi que, muitas vezes, a limitação que surge é criada por mim, na minha cabeça. A minha deficiência não me impede de fazer nada. Após essa experiência, eu me sinto mais forte para fazer o que eu quiser” afirma.

A advogada lida, com frequência, com um tabu que as pessoas têm da mulher com deficiência ser mãe. “Eu não admito isso. A sociedade precisa parar de apontar o dedo sem saber a real situação da mulher. Já ouvi mulheres dizendo que não ovulava, por exemplo. Isso é um absurdo”, conta.

O mito da pessoa com deficiência poder ou não ter relações sexuais também é algo que ouve com frequência. “Muitas vezes me questionaram se eu podia ter ou não uma relação sexual e até mesmo uma relação sexual satisfatória. Há muito tabu sobre esse tema. Existem jeitos e jeitos de se quebrar e se falar sobre isso. Se você tem deficiência, busque a informação com um médico. Pare de ouvir os sabichões e vá buscar ajuda de um profissional”, aconselha.

Próximos passos

Independência é praticamente uma palavra-chave na vida da advogada. Ela diz que o procedimento trouxe tranquilidade para poder planejar melhor a sua própria vida. “Agora dá tempo de investir mais no lado profissional e terminar a minha segunda graduação, que é Psicologia. Após essa etapa, conseguirei me dedicar com intensidade a esse momento incrível que é a maternidade. A deficiência não é obstáculo para nada”, afirma.

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