Elaine Matilde Resende

Compartilhe:

Sou Elaine Matilde Resende, tenho 28 anos, sou deficiente visual com visão subnormal. Enxergo mais ou menos 20%. Vou contar um pouco da minha história.

Sou de uma família de quatro irmãos, sempre estudei em escolas públicas. No primário, as diferenças já começaram. Todos conseguiam ler o que a professora escrevia no quadro e eu não, sendo assim, o rítimo de apredizagem é mais lento. Minha mãe era constantemente chamada na escola e os professores e diretores diziam para ela procurar outro lugar para eu estudar. Fiz até a 3º série de grupo no turno da manhã, perdi a 3ª série e a direção sugeriu que eu fosse transferida para o turno noturno, com a condição de minha mãe me buscar todos os dias na escola.

Iniciei os estudos na 3ª série a noite junto com os alunos adultos. Foi um período difícil, sem grande perspectivas de continuar a estudar depois de concluir a 4ª série.
Após conseguir concluir a 4ª série com o incentivo da minha mãe, aos 13 anos iniciei a 5ª, onde senti as diferenças e as dificuldades de uma pessoa com deficiência.

Graças a Deus encontrei muitas pessoas boas, fiz alguns amigos que me ajudaram, tinha alguns que me emprestavam caderno para copiar matéria em casa, outros copiavam as matérias no meu caderno. E assim concluí a 5º série sem pegar recuperação, assim como a 6ª,7ª e 8ª séries.

Cheguei ao 2º grau, nova escola, novos professores, novos amigos e o preconceito era o mesmo. Mas consegui novamente, lá pessoas me ajudaram e aos 19 anos concluí o 2º grau.

A vontade de trabalhar como minhas colegas era muito grande, mas não conseguia. Tinha o sonho de fazer uma faculdade, mas não tinha condições. Fiquei por um tempo deprimida, tentava e nada dava certo. Não conseguia trabalho em lugar algum.

Foi neste contexto de total falta de perspectiva que apelei e fui procurar um vereador. Chegando na Câmara Municipal, tinha apenas uma vereadora trabalhando e fui conversar com ela, ela me ouviu atentamente e percebeu minhas dificuldades, me pediu que voltasse a procurá-la depois e assim fiz toda semana durante uns dois mêses. Até que um dia ela me indicou uma associação que estava se iniciando, onde eu comecei a participar das reuniões sobre os direitos da pessoa com deficiência.(fequento até os dias de hoje).

Depois me indicou a Fundação Olhos d'Alma, que faz um trabalho de habilitação e reabilitação do deficiente visual. Eu fui a esta entidade conheci jovens que tinham problemas como eu, outros piores. Foi aí que eu me reconheci enquanto pessoa com deficiência e faço parte na diretoria destas duas entidades até hoje. Fiz curso de Informática e com a ajuda de amigos, comecei a fazer faculdade de Serviço Social. Hoje sou Assistente Social. Trabalhei enquanto fazia faculdade como Auxiliar Administrativa contratada na prefeitura onde fiquei por 3 anos. Saí para trabalhar em uma Universidade também como Auxiliar Administrativa, onde trabalho até hoje.

Hoje sou Assistente Social, estou como presidente no Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência do Município de Conselheiro Lafaiete, MG, e faço parte na diretoria da Fundação Olhos d'Alma e na Associação de Conselheiro Lafaiete de Referência da Pessoa com Deficiência – ACORDE. Estou estudando para passar em concurso para Assistente Social.

Sigo com a certeza de que valeu ter passado por tudo isso. E que vale sempre lutar por aquilo que sonhamos. Tenho certeza que vou conseguir atuar como Assistente Social.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *