Fabiano Muniz

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Fabiano Muniz

Sou Fabiano, tenho 27 anos, desde muito cedo já trabalhava para ter minhas coisas. Por morar em uma cidade periférica e ser de origem humilde, começar cedo era mesmo minha cara. Aos 16 anos, fui pai e com essa paternidade passei a trabalhar mais, deixando assim os estudos de lado. Trabalhando em uma marcenaria, um certo dia, apareceram lá dois garotos pedindo restos de materias para que eles pudessem fazer uma rampa para andar de skate. Ao ver o brilho nos olhos deles quando eu concedi o material, veio então o despertar de meu interesse pelo esporte, cuja adrenalina me fascinava. Melhor, me fascina.

Nas minhas horas vagas, eu guardava sobras de materiais que eram jogados fora para eu mesmo fabricar pequenos obstáculos para eu andar de skate. Depois de um tempo, passei a locar esses obstáculos para pequenos eventos de skate e, com o tempo, locava pistas inteiras para campeonatos. No início, era só uma brincadeira e, depois, passou a ser uma filosofia e um estilo de vida. Me divertia e ao mesmo tempo ganhava dinheiro, por isso, fica mais distante de minha formação escolar.

Bem mais tarde, aos 25 anos, precisava dar um suporte maior para meu filho pois, pelo fato de ser pai solteiro, era muito importante ter um equilíbrio. Então, resolvi trabalhar em uma empresa maior que eu já planejava aprender formas pra eu construir estruturas metálicas para continuar com o progresso do skate. Ao passar pela experiência, fui promovido a um novo setor que exigiria de mim uma postura profissional, pessoal e social.

Como skatista que eu era, tinha o cabelo comprido. Nessa época, ganhei dois dias de folga para me enquadrar nesse novo perfil, mas ao cortar o cabelo, eu achei muito estranho, não me imaginava daquele jeito. No dia 16 de janeiro, meu último dia de folga, aproveitei para me distrair e saí com dois casais de amigos e fomos a um shopping. O que era pra ser um local de entretenimento, parecia mais um encontro de caos, ao observar aquelas pessoas alvoroçadas, decidimos na hora sair daquele local que estava em conflito e caminhando pela calçada escutei um forte grito e ao mesmo tempo tiros.

Não tive tempo de olhar para trás. Caí já sem movimentos. Passei pelo processo que todo lesado passa pós-acidente: defequei e urinei em mim mesmo até me reabilitar e, o mais importante, devido ao meu estilo de vida, "psicoadaptar-se ".

Procurei voltar à empresa, mas pela falta de acessibilidade, não foi possível. Não podia parar de produzir, por isso me capacitei para trabalhar com teleatendimento e migrei a uma empresa de telefonia, que por si é uma empresa super dinâmica. Morava em Sarandi (PR) e o trabalho era em Maringá (PR). Na minha cidade, há sérios problemas de acessibilidade. Comprei um carro e fui ao detran para renovar minha carteira, paguei uma taxa normal de R$ 70,00 e outra de R$ 120,00 para um exame especial que era feito em Curitiba (PR) e só me deram o telefone. Ao ligar, falei com uma mulher que me perguntou se eu era deficicente, o que tinha acontecido, se tinha nascido assim, qual era a deficiência, e me explicou que o exame era feito sob demanda e pediu que eu aguardasse. Enquanto isso, eu não trabalharia. Fui pra internet pra ver se achava informaçoes sobre adaptações e assim eu mesmo adaptei meu carro e tive a sorte de trabalhar tranquilo por quase dois meses até ser parado em uma blitz, em que apreenderam a minha carteira vencida, meus comprovantes dos exames que paguei sem ter feito, o carro e perdi uma dia de serviço.

Cheguei no outro dia na empresa e expliquei a situação e passei a usar o transporte público, que mesmo agendando todos os dias com antecedência não existe garantia que vou chegar ou sair, porque a frota inteira tem os adesivos, mas não equipamentos e os que existiam não passavam por manutenções. Enfim, fui desligado da empresa devido a falta de pontualidade e hoje, somente estudo para que em um futuro próximo eu possa revolucionar esse sistema e que juntos possamos transformar também a cadeira de rodas em uma peça de museu.

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