José Paulinho Casanova

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Eu sou José Paulinho Casanova e vou contar a minha história de vida, da minha mãe na minha vida e como é o meu dia a dia resumidamente.

Nasci no dia 13 de março de 1982, às 22h30 no Hospital Dr. Arnaldo, em Descanso – SC (hoje desativado), pesando 950 gramas. Lá, fiquei por 60 dias na incubadora até adquirir peso suficiente pra ir pra casa. Quando tinha seis meses de idade, tive que passar por uma cirurgia na qual influenciou para que eu tivesse sequelas e essas permanecem até hoje.

O que exatamente eu tenho hoje é inconclusivo. Todas as equipes médicas pelas quais eu já passei, cada uma, dá um diagnóstico diferente pra causa da minha deficiência física. Com sete pra oito anos, foi necessário fazer outra cirurgia para alongamento dos membros inferiores, pois eu já não sentava mais, uma vez que atrofiaram.

Depois disso, comecei a estudar com oito anos e juntamente com meus irmãos, íamos pra escola de carroça puxada por duas vaquinhas no interior do município. Em 1994, já na quinta série, eu e meu irmão íamos para outra escola, essa na sede do município de Santa Helena – SC, e isso só era possível porque passava o ônibus escolar perto de casa e o restante do trajeto era feito com carrinho de mão construído pelo meu irmão – pais me empuravam nesse carinho. De 1998 até 2000, já no ensino médio, o ônibus vinha até lá em casa me buscar, já que houve alargamento da estrada.

De 2001 até 2003 eu fiquei sem fazer nada em casa. Em 17 de Julho de 2003, comecei a cursar a faculdade de Administração em Itapiranga – SC, na Sociedade Educacional de Itapiranga – SEI; Faculdade de Itapiranga – FAI. Nos quatro anos de faculdade muitas coisas aconteceram até que eu pudesse chegar no dia da colação de grau, realizada em 25 de agosto de 2007. Eu tive a melhor monografia da turma, tanto que foi muito comentada por toda a instituição e também alcancei a melhor média da turma, o que me rendeu troféu do conselho regional de Administração e da instituição de melhor aluno da turma. Além disso, a minha monografia rendeu elogios de doutores da Universidade Federal de Porto Alegre e da Universidade do Rio Grande do Sul.

Entre as coisas que aconteceram na faculdade vale destacar o apoio mútuo dos colegas da turma e de pessoas de Itapiranga e dos funcionários que me ajudaram pra que eu pudesse estudar, para que não tivesse obstáculos e problemas para estar lá, participando normalmente das atividades desenvolvidas pela instituição.

Também tenho que lembrar o empenho dos motoristas dos ônibus e lotações com quem eu ia pra Itapiranga e voltava todo dia; que nunca deixaram de fazer o seu trabalho com atenção e pela dedicação que tiveram comigo nesse tempo tão precioso e importante pra mim. Teve um período nesse tempo que, para poder estudar, tinha que pegar três transportes diferentes.

De agosto de 2007 até 2008, pela parte da manhã, ficava em casa e pela parte da tarde eu ia ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Santa Helena, onde fazia trabalho voluntário, uma forma de ocupar o meu tempo e assim também ser notado e visto pelas pessoas. Lá, conheci duas pessoas maravilhosas que viraram meus amigos de verdade até o dia de hoje. Em 2008, o poder público municipal de Santa Helena criou um programa chamado de PROFIS, que tinha por objetivo a inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho. Hoje, esse programa não existe mais. A inconveniência desse programa social é que não tínhamos carteira assinada; a remuneração era um salário mínimo, isso é de menos; pois quem quer começar, começa assim! Fiz um excelente trabalho, muito bom mesmo, é o que dizem as pessoas que ainda hoje vêem conversar comigo. Eu sozinho tomei conta de toda a parte administrativa da Secretária da Agricultura do município de Santa Helena – SC. Desde os assuntos internos e principalmente no atendimento dos agricultores, nos encaminhamentos de suas solicitações de serviços de máquinas pesadas. E dos programas sociais desenvolvido pela secretária da agricultura. De 2009, quando acabou o contrato, até o dia de hoje eu não trabalhei mais, de forma empregatícia.

Quero destacar que o que sou hoje se deve a minha valiosa, guerreira e inesquecível mãe, que incansavelmente sozinha criou os quatro filhos, deu educação e fez o encaminhamento de cada um para a vida. Nunca deixou nos faltar nada. Minha mãe adoeceu no ano de 2004, onde ela retirou um tumor maligno no seio direito, um ano depois ela tirou outro tumor na tireóide. De lá pra cá ela só vinha se mantendo com tratamentos fortes e com muita vontade de viver pelos filhos e pelos muitos projetos grandes e sonhos de vida. Muitos desses planos começados, mas em janeiro de 2009, em exames de rotina ela descobriu o surgimento de vários tumores espalhados pelo corpo. Fez pela segunda vez sessões de quimioterapia pra combater os tumores. Mas essa batalha ela não venceu. Depois de oito sessões de quimioterapia, e um ano de batalha, em 26 de janeiro de 2010 ela perdeu a luta pela vida. Aos 54 anos de idade. Foi muito triste e horroroso perdê-la. Ela lutou até o último segundo pela vida.

Profissionalmente, minha mãe sempre foi professora, mestre, educadora dedicada. Ela sempre gostou muito de poder ensinar outras pessoas. Foi professora de séries iniciais e nos últimos anos ela dedicou-se a ser professora de artesanatos. Depois de 25 cinco anos de casamento, em 2006 meus pais vieram a se separar, fato que os filhos reagiram bem, uma vez que o relacionamento dos pais nunca foi digno de uma família completa e harmônica.
Eu era o que mais a preocupava, ela queria que eu tivesse a minha independência de locomoção, para poder ir e vir sem depender de ninguém, propriamente um veículo adaptado. Para poder realizar esse sonho dela, e meu também, no ano de 2009 eu fiz a minha carteira de motorista especial.

Ela mesma doente até me levou pra algumas agências de veículos pra ver alguns carros. Infelizmente ela não me viu dirigindo e levando uma vida independente. E é exatamente isso que desde janeiro desse ano que eu busco minha locomoção e minha independência enviando currículos pra empresas que possam contratar pessoas especiais como eu.

Meus outros três irmãos já estão encaminhados para a vida. São independentes. Cada um saiu de casa com uma mala e dinheiro pra passar um mês é o que ela tinha pra dar aos meus irmãos e todos eles buscaram e batalharam para estarem onde estão. Por tudo o que ela fez por mim e por meus irmãos acho justo esse breve resumo de quem foi essa mãe guerreira e batalhadora. Um verdadeiro exemplo de vida pra todas as pessoas. Que com certeza marcou muitas pessoas e deixará muita saudade.

Algumas pessoas chegam a se espantar quando, por curiosidade, elas me perguntam como é minha vida. Simplesmente falo que é normal. Eu considero que levo uma vida normal. Elas acham que eu preciso de ajuda de outras pessoas pra ‘’tarefas’’ do dia a dia, como tomar banho, tirar a barba, vestir e outras coisas mais. Tomo banho, tiro a barba, faço as refeições sozinho. Passo pano na casa, faço almoço. Enfim só não lavo e nem passo roupa por que até hoje não precisei. Mas estou disposto a apreender um dia a fazer isso também. Socialmente, utilizo uma cadeira de rodas pra me movimentar quando estou em público ou saio de casa. Em casa, não faço questão de usar, ando pelo chão mesmo. É melhor, da mais liberdade e mobilidade, ou seja. Para as pessoas entenderem melhor como eu me movimento pela casa eu diria pra elas imaginarem um bebê ‘’engatinhando’’. É a mesma coisa, é dessa forma que eu faço tudo em casa.

Hoje o que eu preciso é de um emprego que possa me dar a independência; independência essa que me refiro é a independência de me locomover, pois hoje tenho que pedir pra minha irmã ou contar com a prefeitura algumas vezes pra sair de casa. Aqui em Santa Helena, por ser um município pequeno, as empresas não são obrigadas a contratar pessoas com deficiência porque o número de funcionários está abaixo das exigências da lei para terem em seus quadros pessoas com deficiência.

Para finalizar, informo que sempre morei em Santa Helena – SC, um município no extremo oeste do estado de Santa Catarina, na fronteira da Argentina. Aqui todo mundo se conhece. O município tem pouco mais de dois mil eleitores e a base da sua economia ainda é a agricultura. Também quero dizer que não me importo onde seja o trabalho que eu irei com muito prazer.

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