Messias Sarmento

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Nasci no Morro do Alemão, Rio de Janeiro. Desde criança sofro gozação do meu defeito, já tive diversos tipos de apelidos – pé de cabra, pezinho, aleijadinho, perninha, perna fina, perna grossa, etc. – Todos estes apelidos eram motivo de muitas brigas, mas como eu sempre fui franzino, só saia em desvantagem. Eu quase não saia para a rua, mas tinha que ir para a escola, e o pior, de short, pois só tinha uma calça comprida e era para ir na missa e nas festas. Quando me mudei para São Paulo, com 13 anos de idade, eu tinha um primo com o mesmo corpo meu, e ganhei muitas calças compridas dele, a partir deste dia não usava short para nada, mas andava de chinelo, o que dependendo da posição que eu ficava dava para ver que eu mancava muito e tinha o pé torto, e ouvia aquelas perguntas infundadas. – Vc é aleijado?

E eu ia embora. Quando ia para a praia, entrava de calça comprida e alegava que esqueci a tanga. Quando me chamavam para jogar bola, alegava que meu joelho estava machucado de um jogo anterior, e assim fui levando a vida. Minha esposa namorou comigo seis anos e só depois de dois anos de casado que ela percebeu meu defeito, e ainda brincou com a minha mãe que pegou uma peça com defeito e queria devolver. Fiquei quase uma semana sem conversar com ela e todo dia ela pedindo desculpa. Tive que desculpar, pois a amo até hoje.

Conheci um amigo do meu irmão mais velho na praia, estava ele e a namorada dele. Ele é paraplégico, e era a namorada dele que pegava ele no colo e levava para se molhar na água. A alegria dele me contagiava, e meu irmão aproveitando a oportunidade, falou para ele do meu complexo. Quando ele olhou o meu defeito, ele me falou: – Messias, eu sou feliz do jeito que sou, pois Deus tem um propósito para mim, mas você pode ter certeza de uma coisa, se eu tivesse o teu defeito ao invés do meu, eu seria o homem mais feliz do mundo, e sairia correndo esta praia de ponta a ponta de tanga sem me importar com os olhares do povo.

Depois deste dia comecei a olhar o meu defeito com outros olhos, sempre usei short (QUANDO IA PARA PRAIA), pois mesmo assim ficou sequelas do complexo.
Mas quando me vi desempregado por dois anos, e descobri as vagas de PNE, que eu nunca tinha usado, paguei para fazer o laudo com o Dr. Milton Ferreira, hoje vereador de São Paulo, e na primeira semana, várias empresas me chamaram para entrevista. Fui contratado numa metalúrgica em Guarulhos como ajudante geral e operava prensas. Saí devido a crise que assolou o mundo. Mas desde então olho para meus pés com a esperança de ter um trabalho digno, só que o empecilho ainda é o laudo médico que não consigo tirar, pois aqui na zona leste é pago, e eu me encontro na lona.

Obrigado por este espaço, acabo de escrever esta declaração com lágrimas nos olhos, mas feliz que existem pessoas lutando por nós, além de Deus pai todo poderoso… amém.

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