Rock in Rio 2022: Intérprete de Libras se destaca no Palco Sunset

“Pensam que surdo não gosta de música. Como assim?”, diz Leo Castilho, que trabalha pela terceira vez no evento

Foto de um intérprete de Libras no canto esquerdo de um palco. À sua direita, há um homem mexendo em um equipamento de som.
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O Palco Sunset do Rock in Rio recebeu vários rappers no último sábado, 03 de setembro, de Papatinho e L7nnon a Racionais. Mas quem conseguia desviar a atenção do centro do palco durante as apresentações pode ter reparado em uma figura à esquerda, perto das caixas de som, que ajudava a transmitir o show a quem não podia ouvir as músicas. O intérprete Leo Castilho, de 34 anos, traduzia as canções não apenas com o auxílio da Linguagem Brasileira de Sinais (Libras), mas também por meio da dança. A prática ajuda a população surda a aproveitar com mais profundidade as apresentações musicais ao vivo.

“Pra trabalhar com essa pegada artística e visual, a gente precisa pensar muito a questão do corpo, porque é uma comunicação visual, também. Então a gente precisa entender o ritmo, a variação de notas musicais, e tentar fazer uma espécie de brincadeira. Não dá pra acompanhar sinal por sinal, porque fica até feio, né? É essa mistura de poesia e arte que a gente tenta fazer,” disse o intérprete após o show de Criolo.

Leo, que é surdo, conversou com a equipe do GLOBO junto com seu parceiro de trabalho Rafael da Mata. Segundo o profissional, a colaboração entre os dois é vital.

“Ele ouve, passa os sinais, e eu não copio tudo que ele está dizendo, mas eu coloco ali uma questão cultural, da maneira como eu sinto já que ser surdo está na minha veia. É uma perspectiva minha que eu coloco na minha interpretação,” afirma.

Acessibilidade no Rock in Rio e em outros eventos culturais

Leo trabalha no Rock in Rio desde 2017, e diz que nota alguns avanços na área da acessibilidade a pessoas surdas em eventos, mas é preciso mais.

“A gente quer vivenciar essas questões na prática. Na área artística, [queremos] artistas com deficiência auditiva participando, se apresentando nesses espaços e divulgando isso em show, mostrando a língua de sinais e as pessoas surdas participando desses momentos.”

O interprete acredita que seu trabalho ajuda nessa divulgação, mas o apoio da equipe é fundamental. Para que eventos alcancem novos públicos, é preciso haver membros desses públicos na organização, em sintonia com colegas com quem se tenha a intimidade necessária para desenvolver o trabalho.

“Esse acesso é muito importante. Eu sou uma pessoa surda e divulgo isso para outras pessoas surdas. Eles veem a gente, veem que a gente é capaz e que elas também podem. Às vezes as pessoas pensam que surdo não gosta de música. Como assim? Nós estamos aqui.”

Fonte: Extra

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