‘Meu Nome É Daniel’ traz o cotidiano de uma pessoa com deficiência

Ao mostrar sua vida em uma cine(auto)biografia, Daniel Gonçalves defende que pessoas com deficiência estejam atrás e em frente às lentes

Foto de Daniel, um homem branco de 35 anos, subindo uma parede de escalada
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Leia a matéria de Etienne Jacintho para o portal O Tempo, sobre o documentário autobiográfico do diretor Daniel Gonçalves:

Como você chama uma pessoa com deficiência? “Especial” é um termo bastante usado, mas será que contempla as pessoas nessa condição? “Se minha mãe fala que sou seu filho especial, então minha irmã é o quê? Ela não é especial?”, pergunta Daniel Gonçalves, 35, diretor e protagonista do documentário “Meu Nome É Daniel”, que deve entrar em cartaz no segundo semestre nos cinemas.

Daniel nasceu com uma deficiência, até hoje não diagnosticada, que compromete seus movimentos. No documentário, ele usa imagens de arquivos familiares e depoimentos de médicos, terapeutas e enfermeiros para mostrar, de forma leve e bem-humorada, sua busca por respostas e a luta por uma vida mais ordinária. A seu lado, Daniel tem sua família, que o estimula a não deixar que a doença limite suas vontades. “É preciso tirar a pessoa com deficiência deste lugar que ocupamos na mídia e na sociedade. Não somos coitadinhos nem heróis”, fala.

Para Daniel, para quebrar rótulos é importante ter representatividade. Ninguém melhor do que um negro para fazer filmes sobre negros; ninguém melhor do que um transexual para fazer filmes sobre transexuais; ninguém melhor do que uma pessoa com deficiência para fazer filmes sobre pessoas com deficiência. Daniel acredita que eles têm de estar mais presentes na sociedade, precisam sair às ruas.

“A gente ainda é muito invisível”, fala Daniel. “A ONU estima que 1 bilhão de pessoas no mundo tenham alguma deficiência, mas a gente não vê essas pessoas. Dentre todas as minorias, a pessoa com deficiência talvez seja a menor delas.” Para ele, o cinema e as artes em geral têm também essa função.

Daniel conta que ficou com vontade de fazer o documentário, quando um amigo lhe perguntou se ele já havia imaginado como seria a vida sem a deficiência. “Fiquei pensando nisso e fiz um curta. Publiquei o vídeo no YouTube, e ele viralizou”, lembra. “Aí percebi que ainda tinha muita coisa para contar – mais dizer do que contar. As pessoas precisam saber como meus pais lidam com minha deficiência para quebrar essa coisa de achar que é uma coisa ruim”, diz.

Esse não é o desejo somente de Daniel. Recentemente, a Netflix lançou “Special”, série escrita e protagonizada por Ryan O’Connell, que tem paralisia cerebral. “Tem coisas muito legais em ‘Special’ e gostei de ver essa representatividade”, fala.

A mãe de Daniel não é superprotetora como a mãe de Ryan na série. Daniel, inclusive, acredita que esse cuidado excessivo pode ser ruim. Para ele, a pessoa com deficiência tem de frequentar escolas regulares, estar presente. “O que mudaria a percepção da sociedade é o convívio das pessoas com e sem deficiência desde a infância, transformando isso em algo natural. Na sala de aula tem uma criança que usa óculos, um com síndrome de Down, outro com a minha doença que não sei o que é, e por aí vai”, defende.

Fonte: O Tempo

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