Miguel Nicolelis fala de exoesqueleto na Campus Party, evento de tecnologia do Brasil

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"Vocês podem não acreditar, mas macacos adoram jogar videogame, principalmente se você der alguma recompensa no final do jogo", disse o neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis durante sua palestra realizada na última quarta (4) na Campus Party, em São Paulo.

Durante o desenvolvimento do exoesqueleto, estrutura criado para fazer pessoas com paralisia voltarem a andar, Nicolelis trabalhou com macacos. Parte do trabalho consistia em acompanhar macacos enquanto jogavam games cerebrais. Durante as partidas, equipamentos captavam atividades cerebrais dos animais. Segundo o cientista, bichos adoravam jogar, principalmente por serem premiados com suco de laranja conforme a frequência. "Parece familiar, né, parece alguém nessa plateia", brincou o cientista. "Diferente dos seus pais, nós falávamos, 'continuem jogando'", brincou Nicolelis. Os macacos chegavam a tentar 1,3 mil vez e a tomar meio litro de suco por tarde.

Após removerem o joystick, uma macaca conseguiu continuar jogando apenas usando o cérebro, usando o que Nicolelis chama de "força do pensamentos". O trabalho de Nicolelis foi encampado pelo projeto Andar de Novo, que levou um garoto, equipado com o exoesqueleto, a dar o chute inicial na abertura da Copa do Mundo, realizada no Brasil, em 2014. O neurocientista aproveitou para reclamar do pouco espaço dado pela organização do evento.

"A Fifa nos deu 29 segundos. Tempo total da apresentação: 19 segundos", afirmou Nicolelis, acrescentando que, "se a organização quisesse mostrar, dava tempo". "Nunca na história da robótica, uma apresentação recebeu tão pouco tempo."

Um pouco antes disso, o cientista havia mostrado outro vídeo. Ao som do tema dos filmes da franquia "Missão Impossível", Nicolelis exibiu imagens dos primeiros passos dados com o exoesqueleto. "Prestem atenção na trilha sonora", disse. "Pensamos que tinha de ser algo apropriado", brincou.

Nicolelis contou que o projeto "Andar de Novo" nasceu da tentativa de usar tecnologias mais avançadas e reunir os cientistas do assunto. O objetivo era criar o 1º exoesqueleto controlado pela mente, que permitisse que as pessoas com paralisia sentissem o chão, "de tal forma que o cérebro incorporasse essa veste como parte dele". Isso ajudaria as 26 milhões de pessoas com problemas neurológicos.

Durante a apresentação, o neurocientista explicou o que chama de "Teoria Pelé", que trata de como o cérebro passa a tratar objetos ao redor como extensão do próprio corpo e como isso afeta as ondas neurais. "Se eu pudesse registrar o cérebro do Pelé, para ver a área do pé, não ia encontra só o pé, mas também a representação da bola, porque, para o Pelé, o pé e a bola faziam parte do corpo dele", explicou. "Tudo é assimilado pelo cérebro dos primatas como extensão do corpo."

Para exemplificar, comparou como redes sociais podem ser encaradas como partes do nosso corpo. "A nossa existência se expande pelas ferramentas que usamos no dia a dia", disse, acrescentando que "é duro dizer isso, mas nós nos estendemos pelo Twitter, Facebook".

Nicolelis falou ainda sobre outro projeto, chamado de 'brain net' ou, como diz, "a primeira internet cerebral". "Nós conseguimos mostrar que o cérebro de um ratinho no Brasil pode ser conectar com o de outro fora do país", afirmou Nicolelis, contando sobre outra pesquisa que tenta provar ser possível a comunicação direta entre dois cérebros. Com isso, por meio de sinais neurais, é possível enviar um "SMS cerebral", diz o neurocientista.

"Digam adeus aos seus teclados, para quem estiver apaixonado pela Siri, da Apple, também porque seus filhos vão navegar na internet com comandos cerebrais", disse Nicolelis.

Fonte: G1

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