Taiu Bueno: ‘Minha missão é inspirar as pessoas’

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Veja como um dos melhores big riders do mundo conquistou ainda mais vitórias após o acidente que o deixou tetraplégico.

Por Elza Maria Albuquerque

“Continuo e sempre continuei amando o surf, mesmo tendo me acidentado surfando”. Essa declaração de amor ao surf é de autoria de um dos melhores big riders (surfistas de ondas gigantes) do mundo: Octaviano Augusto de Campos Bueno, conhecido como Taiu Bueno. No auge de sua carreira, a um mês de completar seus 29 anos de idade, ele sofreu um grave acidente que mudou sua vida e se tornou um dos seus maiores desafios.

De uma onda mal completada na praia de Paúba, litoral norte de São Paulo, no dia 1º de novembro de 1991, o surfista fraturou a quarta vértebra cervical e, com isso, traumatizou a medula do sistema nervoso. Taiu teve paralisia motora do ombro para baixo.

Logo quando após o acidente, a primeira reação do atleta era não acreditar no que tinha acontecido. “Ainda na praia, não acreditei que o meu corpo estava paralisado. Pensei que eu iria sarar daquilo, que o meu corpo iria se recuperar. Tive fé, o que me ajudou a recuperar a minha saúde, não a parte motora”, disse ele.

O apoio da família foi total para a sua recuperação. Seus pais sempre estiveram presentes, fazendo tudo por ele, junto com seus irmãos. “Todos se dedicaram na fase mais crítica. Tive e ainda tenho o apoio de muitos amigos. Este apoio e admiração que eu tenho dos grandes amigos são fundamentais na minha conexão com o mundo real, porque quando um tetraplégico fica sem apoio, é um minuto para que fique excluído de tudo”.

Novos rumos

Para felicidade de todos aqueles que admiram o surfista e torcem por ele, Taiu deu um show de determinação e continuou inspirando as pessoas em todas as áreas de sua vida. Na parte profissional, entre suas atividades, ele ministra palestras motivacionais para empresas e escolas; é escritor; é comentarista esportivo de surf.

Sem perder o brilho nos olhos e a esperança, em 2010, conseguiu mais uma vitória: Taiu foi o primeiro surfista tetraplégico do mundo a descer ondas maiores de um metro (sem mobilidade dos braços). Com uma prancha adaptada e a ajuda de amigos, a sua volta ao surf é uma das alegrias da sua vida.

O que o inspira? “Sou casado com a Diana e isso me inspira muito! Há também outras inspirações no meu dia a dia: Jesus Cristo e o seu exemplo; passear com os meus cães; a oportunidade de inspirar pessoas ao vivo, com as minhas palestras de motivação”, contou. O amor que Taiu mencionou é Diana Bueno, sua esposa, que é a sua empresária e a pessoa responsável pelo seu marketing.

Outro capítulo importante da sua vida e que merece um destaque especial: seus livros e sua atividade como escritor. Em 1999, ele publicou o livro Alma Guerreira. “Acredito que a minha história inspira e motiva as pessoas. Hoje, estou trabalhando na fase de correção e edição do meu segundo livro, que será a continuação da história. Este não vai ter tantas histórias de surf como o primeiro, mas sim a história que passei e passo nesta cadeira motorizada por aí. Tem também a novidade, que é a minha volta ao surf”. Segundo ele, o livro sairá até o final deste ano ou início de 2014.

Dia a dia

Na sua cadeira motorizada, Taiu faz todas as atividades com mais independência. É com ela que ele passeia com seu cachorro, viaja, sai com os amigos e trabalha. Para escrever, ele usa o mouthstick palito especial para teclar com a boca. “Eu escrevo muito rápido. Já tentei usar o Voicer, mas prefiro teclar. O problema é que machuca a gengiva e entorta os dentes. Uso também o telefone e o mouse TrackBall que ficam disponíveis na minha mesa. Com tudo pronto, é só mandar bala, seja escrevendo ou fazendo contatos”.

Quando precisa sair de casa, Taiu conta com um motorista. Em casa, há outra pessoa que o ajuda com as necessidades básicas (banho, comida, vestir-se).  A sua esposa ajuda também em muitas coisas, principalmente quando um funcionário falta.

E os cuidados com o corpo? Ele listou algumas dicas. “Cuidados gerais e um pouco mais. É importante ficar sempre limpo e bem enxuto. Com o corpo, dou mobilizadas diárias e procuro ficar em pé sempre; tomo muita água; gosto de tomar sol. E mais: mantenho-me ocupado e estou sempre dando uns passeios pela cidade”.

Sobre as condições de acessibilidade no dia a dia, Taiu acredita que o Brasil está progredindo. “Muitas leis são cumpridas, mas algumas não. Comparando com os anos 90, evoluímos bastante”. Para ele, o maior problema é a má gestão pública e a corrupção. Questões como buracos nas ruas e calçadas inadequadas não são levadas tão a sério como nos países desenvolvidos. “As leis contra a corrupção deveriam ser as mais severas, mas os legisladores não querem fazer isso. Dar um tiro no próprio pé. Talvez, com gente ousada e íntegra no poder, as coisas melhorem bastante. É sonhar com isso, por enquanto”.

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