O portal Extra divulgou uma matéria sobre pessoas com deficiência que praticam esportes radicais. Leia abaixo o texto na íntegra:
Os esportes radicais sempre encantaram o paulistano Ricardo Shimosakai, mas foi somente após levar um tiro durante um sequestro-relâmpago, aos 33 anos, que ele tomou a iniciativa de mergulhar de cabeça no turismo de aventura.
— Vi que a vida pode acabar num instante. Então percebi que precisava fazer logo o que eu queria, não podia deixar para depois — lembra.
Ricardo ficou paraplégico por conta do incidente, mas isso não o impediu de acumular um sem-número de experiências. Hoje com 50 anos, ele já saltou de paraquedas, voou de parapente, desceu uma montanha de tirolesa, fez mergulho com cilindro, rafting, rapel, esqui na neve e exploração de cavernas.
Para quem tem alguma limitação de movimento, a adaptação nessas atividades pode ser necessária. Mas a alteração muda de acordo com o tipo de deficiência. Quando Ricardo fez paraquedismo, por exemplo, precisou ter as pernas amarradas com uma corda, para que, quando o paraquedas abrisse, elas não sofressem um “tranco” muito grande. Por outro lado, para fazer rafting, não foi necessário fazer nenhuma mudança. Se fosse uma pessoa tetraplégica seria preciso uma cadeirinha com cinto, para impedir que ela caísse para fora do bote por não conseguir controlar o tronco.
Muitas vezes são necessários simples detalhes, mas que fazem toda a diferença. Ricardo lembra que, há alguns anos, andou em um quadriciclo adaptado que acabava de ser lançado. Os guias ensinaram alguns comandos e avisaram, por alto, que a lateral do veículo esquentava um pouco. Ao final do passeio, Ricardo saiu com a perna queimada, conta:
— Quem sente o calor na perna simplesmente a afasta da lateral do carro. Mas eu não tenho essa sensibilidade, por isso nem notei que estava me queimando. Muitas vezes, as empresas de turismo querem oferecer atividades adaptadas, mas, por falta de experiência e de consultores que tenham deficiência, acabam errando.
As vivências de Ricardo são tantas que ele criou o blog Turismo Adaptado, onde recomenda atividades, lugares com turismo acessível e empresas seguras. Um serviço parecido é oferecido pelo gaúcho Rotechild Prestes, de 53 anos, presidente da Caminhadores. A organização de turismo de aventura para PCDs existe desde 2003, e é a primeira instituição desse tipo a não cobrar pelo serviço. Basta entrar no site e fazer um cadastro explicando qual é a deficiência, qual atividade radical se quer praticar e onde. Os 16 voluntários que trabalham na Caminhadores buscarão, então, de que modo isso poderá ser feito.
— Independentemente do grau de lesão que a pessoa tenha, ela vai realizar a atividade que quer — garante Rotechild, ele mesmo uma pcd. Por conta de uma poliomielite contraída na infância, ele usa uma prótese na perna direita para conseguir andar.
A Caminhadores oferece atividades apenas no Rio Grande do Sul, onde fica sua sede, mas tem parceiros em todo o Brasil, para os quais a instituição encaminha quem quer praticar esportes radicais em outros estados. Mais de 5 mil pessoas já foram atendidas.
— Em agosto vamos levar um casal de paraplégicos a dois cânions da serra do Rio Grande do Sul. Eles nunca foram a um, e é um sonho para ambos. Isso é muito recompensador — comemora Rotechild.
Fonte: Extra Online