“Universidade diz: aqui não é pra você”, conta cega que concluiu mestrado

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O Piauí é um dos estados com o maior número de pessoas com deficiência visual. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) 22,5% da população estadual possui cegueira ou baixa visão. Receber educação com métodos apropriados e uma escola adaptada é um desafio para quem não quer se dar por vencido diante de uma limitação física.

A dificuldade de ensino para pessoas com deficiência está em todos os níveis, seja em escolas públicas, particulares, faculdades ou universidades. Desde os 10 anos de idade, Rogéria Rodrigues começou a perder a visão e, a partir dessa mudança, teve que modificar as técnicas de estudo e investir na própria educação. Conseguiu se tornar a primeira pessoa com deficiência a concluir um mestrado no Piauí.

Rogéria conta que concluiu a graduação na UFPI e, a partir daí, se voltou para a área de pesquisa. “Nos primeiros períodos que entrei na universidade, me ofereceram um monitor para auxiliar na aprendizagem, mas ele quase não dava conta. Diante disso, eu comecei a investir na minha própria inclusão, comecei a adquirir tecnologias, pagava pessoas para ler para mim e assim consegui concluir todas as etapas”, relata Rogéria Rodrigues.

Agora ela é mestre em educação inclusiva, professora da rede municipal e também leciona em uma faculdade de Teresina. A deficiência visual não impediu Rogéria de alcançar seus objetivos. “Eu fazia da educação um apoio para enfrentar a cegueira. Ao contrário da regra, eu não me atrasei nos estudos”, comenta a professora que deseja cursar um doutorado.

Durante a graduação, Rogéria enfrentou muitas dificuldades e até preconceito por parte de professores. “O que se vê na Universidade é um silêncio e uma ausência que transmite uma mensagem: ‘Aqui não é pra você’. É isso que fica no ar. Em algumas disciplinas, o professor nunca falou comigo e eu deixei de assistir aula. No final do período eu estava aprovada. Era uma maneira dele se assegurar, porque ele sabia que estava cometendo preconceito”, comenta a professora Rogéria.

Acep transcreve atividades escolas para braille

Os alunos das escolas públicas e particulares da capital contam com o apoio da Associação dos Cegos de Teresina (ACEP) para transcrever as atividades da escola regular para braille e ter aulas de reforço.  O estudante Adris de Araújo conta que a falta de material adequado atrasa o conhecimento. “Ficamos dependendo de colegas, que copiam para mim. Também uso gravador. Venho à associação todos os dias para poder acompanhar o conteúdo dado na escola regular. Aqui, sim, a gente tem um acompanhamento direito e eu consigo acompanhar”, complementa o estudante do 2º ano de uma escola particular.

O mesmo acontece nas escolas públicas. “É muito difícil porque não tem como aprender no mesmo nível que os outros. Eu vou para a ACEP para ter aulas específicas e adequadas”, conta José Luís (foto abaixo), estudante da rede municipal.

Mesmo com projetos e auxílios para ajudar os estudantes com deficiência, os métodos ainda são ineficientes para eles que, muitas vezes, são prejudicadas devido à falta de estrutura física e literária. “Não importa se é pública ou privada, as escolas não atendem às necessidades dos deficientes visuais”, comenta Adris, que deseja entrar na universidade e cursar Direito, embora saiba que as dificuldades devem permanecer no ensino superior.

Fonte: Portal O Dia

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